Just a Silent thought to share
7.11.11
Outono Eterno
Enquanto cerra a neblina
e um palco de sombras se acende ao vento,
o mar olha travesso em fúria felina
como quem esgrima a fuga do tempo...
Mas ele passa traiçoeiro,
matreiro e mentiroso.
Finge deslizar sem pegadas, disfarçado,
perante meus temores de olhos vendados,
e leva-me o ontem e o amanhã sem que eu conheça o hoje.
Talvez eu queira não ser presente.
Explico-me no enredo dos nadas disnexos,
nas palavras invertidas e pausas sonantes,
no não estar onde não pertenço,
mesmo que anseie ser eu, ali, ontem e amanhã.
Porque açoito o oceano quando ele me acalma,
beijo-o enquanto, rebelde, me rouba o ar...
Só porque sei que, num breve e puro olhar,
roubo-lhe os tempos, as certezas,
tiro-lhe a pax de saber quem é,
enquanto se acha lentamente em mim...
Encontra-me.
Sobe-me a planta dos pés,
humedece-me.
E quando me arrebata eu volto ao chão
atrás ... um passo de não.
Sei que já despedi a Primavera
e que não chegará o Verão...
Não trepei a hera do tempo,
rastejei em vénias nas poças da chuva
para nao perder o rasto de um choro triste e feliz,
porque sei quem sou, sem ti,
um outono eterno.
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