
Projetado
vejo-te apenas os passos lentos pausados
enquanto se desfolha o teu perfume
como chuva de pétalas em meu rosto rosado.
Suspenso em meus cabelos
a brisa baloiça-se nas minhas pálpebras
adivinhando um véu que esconda o meu rubor...
O que te dista encurta-se,
vai encurtando...
no meu peito o ar dilata-se,
contrai-se,
perde o rumo,
suspende-se...
E tu persistes em chegar
de olhar projétil que me despe por dentro,
ávido de um suspiro suculento,
meigo e apossante
jamais como amante,
mas como mágico mudo que tudo diz num gesto.
Então eu levito
enquanto as tuas mãos me tomam
o rosto em rosa botão recém-nascido,
de polegar em lábio intumescido,
fervente,
onde os teus incendeiam finalmente.
Toque leve disfarçado, fugidio, desejado...
mãos que descem desmaiadamente,
lábios rebolantes em marés doces
como se, em volta, tudo, nada fosse...
Ah delírio, apneia, colírio, desvelo...
a perfeição de um estranho sonhado
que existe, insiste, revolve e despe o selo
de um silêncio lacrado pelo ontem perdido.
Hoje é o amanhã que ontem soube esperar,
não chega, mas vem
vêm os passos calçados, maduros e nobres,
vem a chama secreta vestida de pele,
vem a boca cerrada, magmática
de mel...
um estranho por vir
que vem
e só chega
quando eu deixar de fugir....