Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

15.4.09

Invisivelmente...













Foi-se embora...
Deixou o ruído ensurdecedor das plumas que caíam,
perdendo seu esvoaçar, um a um...
Desbotou os sonhos de diamante, de amante, errante,
na bruma dos nimbos que se avolumaram...
Deixou o outrora,
como legado de um baú vedado ao mundo,
e lá rendeu o seu secreto delírio, insuportável horror...
Não reaprendeu uma outra manhã de Primavera,
apenas ausentou de si a espera,
e sobrevive nos espinhos com que resguarda aquele amor...
Ainda que o ninho aqueça nas noites invernais,
por mais suave que chegue a brisa que o beija,
nas melhores iguarias há um amargo de fel,
um estranho disfarce de mel,
que recolhe na colmeia da memória...
Não é triste, nem só, nem perdido,
o espaço é que se tornou incapaz
de conter tanta felicidade secreta, tanta paz...
Não é solitário sofrido,
é um duo, duplicidade unificada, bivalve,
uma só certeza germinada nas promessas seladas, eternas.
Não se ergue aos ventos nem rasga oceanos, mas é ave,
estranhamente angelical, jamais denunciado,
apenas por ela, nela, a ela desvendado...
Foi-se embora das torrentes presenças esfomeadas,
das ternuras abissais que nunca possuiu,
transmutou-se para poder ser quem é em si mesmo.
E reencontrou-se no amor eterno que o possuiu...
Invisivelmente...

S.

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