Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

22.2.11

Um reflexo imaginário





Hoje celebro o “nós”.
Deixo que a mente esvoace nos poros de todas as descobertas,
Imponho silêncio para que a tua voz seja tão audível como naquele domingo.
Respiro de olhos cerrados para sentir de novo o teu cheiro, a tua pele e a temperatura de cada pedaço teu no meu.
Hoje eu perdi o pudor, perdi a contenção, rasguei as vestes que limitam a minha liberdade, pensei em mim, sem timidez nem subtileza, sem segredos nem máscaras, sem medo de todas as consequências de cada verbo.
Senti de novo aquele quarto, a média luz, os tremores da ansiedade que me petrificava, os espelhos e a cama redonda sem norte nem fim.
Senti-me em ti e tu em mim, os fluidos mesclados, os balbuceios apagados, os olhares perdidos de um amor inconfesso por palavras e que nem a dor tem poder de suspender.
Tenho as marcas de todos os teus movimentos, dos gestos, dos impulsos, do passear dos teus dedos em meus cabelos, do deslizar de teus lábios algures em mim em trilhos ditados pelo tempo.
Esse tempo que nos fugia das mãos como areia solta ao vento, mas que passou por nós como orvalho e molhou-nos de desejos perfeitos, de êxtase e prazer destinados a eternizar-se numa saudade testemunhada pelos corpos espelhados e fotografados sem pudor.
Nada mais importa, nenhum sorriso volta a nascer além deste momento.
Se aquele domingo acordasse hoje, no mesmo céu encoberto, na mesma rua, na mesma manhã enfeitiçada pelo anseio e pelo risco, ao som das mesmas melodias e pautado pelas mesmas promessas trocadas… eu renasceria!
Eu levei-me de novo ao mar que me fere, que me acalma, que me chama para um abismo único sem vida, mas que me arrepia de esperança em réstias de espuma branca!
Hoje apenas o som de uma flauta mágica gemeu em torno de todos os meus sentidos e abraçou-me neste vazio que é parte de mim ausente.
Então deixei que o encantamento me arrebatasse e menti á vida, cometi o maior de todos os enganos, mas perdoo-me no tempo e deixo-me de novo regressar ao nada que sou, uma metade que se esvai interminavelmente.
Hoje celebrei o dia em que de novo te fizeste sonho real em mim.
Um diamante puro que não conhece a realidade cruel nem se rende a percas ou desenganos, nem acredita nos gestos falsos sem pudor que teimam mancha-lo ou retirar-lhe a grandeza que ninguém é capaz de alcançar.
É apenas um amar eterno sem cobranças nem contornos obscuros, secreto e ameno, suave e tranquilo, inofensivo e perseverante, distante de todas as artimanhas malévolas de quem nunca conheceu o verdadeiro sentir amar.
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