Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

27.3.09

Um toque




















Enquanto as palavras estão aprisionadas
e a voz se esconde nos arbustos da timidez,
olhos dançam disfarçadamente, de soslaio,
procurando um movimento,
um gesto,
a denúncia de um momento,
de um carinho adivinhado,
querendo acontecer...

Quase o sopro se evapora e falta,
o coração intermitente reclama
e as mãos ardentes procuram,
secretamente,
um toque subtil.

O rubor do rosto se intensifica,
e a emoção espreita
em tua boca doce
onde o sonho se deita.

Num acto de coragem heróica
meus dedos alcançam teu rosto
e, numa sensação deliciosa, enfim,
sentem sua textura suave,
perfumada, amorosa...

Como pétalas de uma rosa
são meus dedos de seda
que tocam tuas pálpebras fechadas,
tuas faces tranquilas,
sentem o ar quente que sopras,
o sabor que destilas de teus lábios serenos...

Os teus cabelos,
incontáveis desejos
que deslizam nas palmas das mãos...

Brota a ilusão
e a voz não sustida segreda,
quase inaudível,
um som não articulado
que contém todas as palavras
que descreveriam a emoção...

As notas musicais caem das pautas,
incapazes de dançar
porque o bailado perfeito
está naquele tocar
com a ilusão e o sonho
que o coração de alguém,
num dia inigualável,
se atreveu a imaginar...

S

Asas Nuas















Enquanto a noite adormece
em redor caem as folhas
tocadas pela brisa fria invernal.
O chão se estende e as recebe
como a um cobertor que o acolhe afinal.
Apenas as minhas pálpebras
erguidas como torres firmes inflexíveis,
reclamam uma noite sem guarida,
sem leito nem estrelas
e já a lua se esconde na escuridão.
Recolho-me então à minha solidão.
Nos seus aposentos me revelo
e conto meus mais secretos anseios,
aqueles que não conto a ninguém!
Porque quando os contei
foi quando, de novo, os chorei!
Não mereço olhar nem ver
ao espelho meu sorriso,
ele me trai continuamente,
porque seu brilho me mente,
me inunda de amor e paixão
que me rouba a tranquilidade,
me perturba até à exaustão,
e me acorda dos sonhos que me deu.
Não posso voar...
Não perdi as asas de anjo!
Fui perdendo as penas e as plumas!
Um dia uma, outro dia algumas,
e hoje tenho as asas nuas.
Pedem-me que as torne a cobrir
porque tremem de frio e medo,
mas não sou capaz de prosseguir.
Vou deixa-las desmaiar
até a vida as abandonar
e já não serão mais parte de mim...

S

26.3.09

Sol















Lá vem esse toque intenso de sol sedento...

Espreguiçado nas entranhas de meus desejos,
Soletra recantos que arrepia em seu deslizar...

Faz-me engolir um suspiro abismal
e as minhas ousadas fantasias vem sugar.

É um calor que banha com ouro e mel,
fala e canta em espuma de sal
e inventa trilhos de água e de pele,
de suor e rubor, rompendo o véu da timidez...

É ele outra vez!
Esconde-se atrás da noite mas não me esquece,
espreita pela lua e segreda-lhe que me faça sonhar.
Eu nem durmo, perdida no tempo a pensar
que as horas passam e no horizonte se fará de novo nascer.

Hoje vou rete-lo em mim!
Vou olha-lo intensamente,
beijar seus raios que brincam com meus sentidos,
fa-lo-hei entrar em mim subtilmente
e em meus lábios o encerrarei para que seja só meu!

S

25.3.09

Permanente...















O que trazes nas falésias dos teus dedos?
Quantas travessias teu mar empurrou sob o sol do anoitecer?
Onde se refugiaram as cores do teu olhar poisado no meu?
Quantas marés, beijando a rocha, percutiram nossos sonhos?
Lá vão as águas, rio abaixo, como loucas!
O vento arrancou as palavras de amor e paixão que não foram reveladas.
Mas quem sentiu o corpo tremer e arrepiar escreveu, a tinta permanente, todas as partilhas...
Comprei um dia que estendi no tempo até perder seus confins.
Hoje não releio o rolo de telas e fantasias porque as sei de cor...
Há, por perto, flores frágeis, de fragrâncias que não me encantam.
Levedam as estrelas para que seu canto seja gritante em meu semblante...
Mas a chuva não cessa, caindo seca e pesada, como pedra lavrada.
Banho-me nela para até que a própria dor me ensine a vence-la.
Não me espreites nos intervalos da partida.
Não ocultes a iminente fugida.
Não te esqueças que nunca te ensinarei a esquecer de mim!

20090323

S

23.3.09

Violino















Tu...
Olhas-me em tons perfumados de mel,
vertendo riachos de sedutoras carícias.
Tuas palavras são molhos de chaves que me descobrem...
Rolas em meu fôlego retendo-o em delícias
e moves-me...
Teces-me, ante os pés, a pista dos meus sentidos
abraçados aos teus
em um balanço de água e cristais...
O coral de sorrisos incandescentes
escorre em lava por lábios serenos e quietos...
apenas a chama interna se devolve ao corpo
colidindo com o disfarce do véu solúvel...
Sou um eco de acordes subtis pontilhados pelos teus dedos,
trago gotas de teus encantos em meus cabelos
e assisto ao bailado de nossos olhares
que apenas se encontram nos espelhos do sentir...
Voas sem asas num flutuante envolvimento
como brisa em terno movimento,
beijando-me disfarçadamente...
Eu não sei a tua canção,
mas soletro-a adivinhando os seus compassos,
pauso em seus silenciosos suspiros
e retomo o gemido idílico num gostoso abraço.
Tu...
sem pensar nem sonhar,
és assim...
lido por mim.
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