Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

29.9.09

Azul permissão














Nessas planícies azuis,
Enquanto dançam brisas que se beijam ao sol,
Há uma melodia terna e quieta,
Uma estadia secreta
De água perfumada de sal.
A visão deita-se no sombreado,
Entre o algodão e a maré,
Degusta a beleza e a ilusão,
Acredita que não há solidão
No horizonte inatingível
Pintado de mel.
O suspiro perfura a alma,
Explora jardins encantados,
Destila a lágrima mesclada
Entre o sorriso e a prostração,
E ela resulta cristalina.
Não há sombra nem neblina,
Não há verbo verbalizado,
Apenas aquele estado encantado
De quem quer apenas esvaziar-se de tanto,
Encher-se com tão pouco
Como essa imensidão indescritível,
Que se alinha com o céu,
Ao longe,
Tão distante,
E tão táctil
Como a espuma que beija os pés…
Não há medidas nem compassos,
Os rios param e o sol estaciona no entardecer,
A memória dormita,
Os medos escondem-se,
Não existe amanhã.
O agora é perfeito
Enquanto for permitido,
De sonhar, o direito!


S.

12.9.09

Silêncios de Ouro

Há um espaço…
Um extenso compasso de águas que deixam de bailar!
Elas esperam por palavras…
Bebem uma emoção nunca degustada
E devolvem um espelhado mágico…
Letras de sol deitado, de nuvem chorada,
De estranhas loucuras de pele…
Embaraços de estares e incontinências,
Platónicas envolvencias,
Estados de alma pura
Que nunca, em sua loucura,
Aprendeu a ser malícia…
Não há brisa que beije as folhagens,
Nenhuma flor cresce ou murcha,
Apenas o ar é puro,
As pétalas são virginais,
As cores são inventadas na palete dos sentidos…
Tudo por um momento leve,
Transposto para um outro estado sem lei,
Coberto de estrelas palpáveis,
De tesouros escondidos,
De luares reunidos,
De expansão multicor…
Um invólucro de paixão permanente,
De amor eterno,
De ninfa secreta,
De beijos perplexos…
De um mundo interminável
De palavras sem voz…
São momentos mudos onde brotam sonhos,
Sons inaudíveis de dor e alegria,
Canções que não se escrevem,
Pautas nunca gemidas por dedos,
Mas são toques de prazer sem movimento,
Saudades profundas de mil momentos,
Intermináveis declarações nunca ditas
Mas escritas…
São Silêncios de Ouro!

S.

7.9.09

Pérola-Mar

















Há, no mar,
uma expansão de vida,
um espelho de luz,
a sombra de uma ave ferida,
uma voz suave que seduz...
Há, no mar,
um instante,
um lençol de tempo,
a elasticidade de cada momento
que queremos eternizar.
Há, no mar,
o segredo inconfesso,
o tesouro mais secreto,
a canção nunca igual de um choro,
de um sorriso divinal,
de uma distância encurtada
por um azul nunca repetido.
Há, no mar,
o mistério da saudade,
a saciedade da memória,
Há uma verdade,
a infinidade
de se poder ser real...
Há, no mar,
a brisa da esperança
temperada com sal,
adocicada de sol...
a pérola preciosa
que é a chave silenciosa
de todos os sonhos
que ainda hão-de se realizar...



S.

5.9.09

Fica


















Enrosca-te em mim de olhos fechados,
rende-te ao passeio da pele entre os dedos,
poisa tua ansiedade febril em meus poros molhados
e cresce em mim.
Avoluma as tuas emoções e sorri,
pernoita entre meus licores desmedidamente,
despe o amor e solta-o à brisa do meu beijo,
enquanto eu quero que, perdidamente,
fiques em mim.

S.

4.9.09

O fim de um espaço negro
















Entre a voz e o calado
Está a espera que arrepia,
Está o rasgo da memória,
Encobre-se a coragem no manto da covardia…

Ali, no contratempo, na luta,
Devolvem-se olhares furtivos,
Gestos altivos,
Amargura e alegria…

Entre a espada e a parede
Escorrem lágrimas e secam,
Desferem-se verbos
E decapitam-se carinhos

E enquanto a demora pernoita
Desfalecem os tendões do desengano,
Desacreditam-se as ilusões de outrora,
Perdido norte num horizonte apagado sem hora…

E, de repente,
Como quem desmente,
Do nada, algures, sem pensar,
O abraço!

Eu chego envolta em palavras,
De olhar traçado de azul e água,
Como quem soletra uma emoção,
De flocos de sol na mão,
E segredo numa brisa quente e suave
Em teu corpo suado e triste
Que no voo de uma ave
A esperança existe…
Que o céu ainda é pintado de magia
E que a chuva ainda sacia
Brotando em ti
A madrugada perdida…


S.

2.9.09

A tua noite











Despem-se as luzes e acorda um luar perfeito.
Apenas um jogo de reflexos estonteantes se liberta
e o perfume inebria sem margens...
A água dormita entre suspiros que vão e regressam
mas a voz fica dançando na paisagem
que é calor, e corpo e sonho deitado,
contemplação...
Os sorrisos meios perdidos esvoaçam nos olhares
e o encanto suspira serenamente...
Sem pressas,
sem contenções,
apenas fluidez de sentidos,
rasgos de memórias,
fantásticas ilusões...
E a alma cresce,
o corpo ganha cores e arrepios,
e vence-se tudo num abraço
que fica embrenhado no areal...
Agora sim,
o ontem se desvaneceu,
apenas o agora,
hoje,
é o instante que se pode gravar
e levar,
deliciosamente,
para o amanhã.

S.
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