Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

22.11.11

Tal intensidade...






Há um tal sabor...

rural, invasor, letal...

Um estado febril,

são...

levitante...

Um leito inerte

de corpo percorrido,

maratona do tacto,

colheita de contorções...

Uma tal chama labial,

rastilho involuntário,

seio orvalhado,

mordida fatal...

Mudos "ais"

arrastados,

dedilhados,

declamados por puplias dilatadas,

denunciadas,

ensandecidas...

Um estado tal

de estar,

ir estando,

demorar,

arrebatando,

enlouquecendo lentamente

enquanto se sente

cada poro acordar

Com tal intensidade

que se priva de aquietar...



Silenciosdeouro

7.11.11

Outono Eterno





Enquanto cerra a neblina

e um palco de sombras se acende ao vento,

o mar olha travesso em fúria felina

como quem esgrima a fuga do tempo...

Mas ele passa traiçoeiro,

matreiro e mentiroso.

Finge deslizar sem pegadas, disfarçado,

perante meus temores de olhos vendados,

e leva-me o ontem e o amanhã sem que eu conheça o hoje.

Talvez eu queira não ser presente.

Explico-me no enredo dos nadas disnexos,

nas palavras invertidas e pausas sonantes,

no não estar onde não pertenço,

mesmo que anseie ser eu, ali, ontem e amanhã.

Porque açoito o oceano quando ele me acalma,

beijo-o enquanto, rebelde, me rouba o ar...

Só porque sei que, num breve e puro olhar,

roubo-lhe os tempos, as certezas,

tiro-lhe a pax de saber quem é,

enquanto se acha lentamente em mim...

Encontra-me.

Sobe-me a planta dos pés,

humedece-me.

E quando me arrebata eu volto ao chão

atrás ... um passo de não.

Sei que já despedi a Primavera

e que não chegará o Verão...

Não trepei a hera do tempo,

rastejei em vénias nas poças da chuva

para nao perder o rasto de um choro triste e feliz,

porque sei quem sou, sem ti,

um outono eterno.

22.10.11

Conta-me do teu Azul







És um ponto, ao longe, que se dilata no meu olhar.

Abraças, por instantes, o infinito que te absorve para sempre

E desenhas, no invisível,



a paz e o silêncio de todos os momentos.

Ai! Quantos suspiros contidos em tua alma!

Tantas cores que se resumem num único novelo azul!

E tens o sabor de todos os orvalhos que o sol beijou,

Tens todos os segredos dos pássaros

E, no horizonte, um anel de chamas que te coroa.

Mas, nessa tal liberdade, és cativo de todas as chegadas,

Corres para um chão que te permitiu ascender ao sonho

Do qual tens a magia de nunca acordar…

Eu também estou aí

Nessa janela invisível, de um conto de fadas,

Nesse jardim de plumas brancas onde as nuvens têm pétalas

E os perfumes são todos quantos a imaginação permitir.

Conta-me do teu azul.

Dá-me as asas do vento e o seu sabor.

Decora a amplitude dos lençóis que te fazem levitar

E traz pedaços de céu e de mar…

Vem descendo sem pressa.

E traz um punhado de estrelas na mão.

E conta-nos...

Quantas delas têm os nomes de quem amas?

Quantas vezes espreitaste o sol que se esconde de nós…?

Quantos sonhos pensaste nesses breves instantes

Que se alongaram para a vida…?

Talvez não tenhas tido tempo de pensar,

Talvez tenhas aproveitado para seres tu mesmo e voar…

Talvez não sejas um anjo como tantos te desenham

Porque és um pouco mais…

Quando declamaste gestos de ternura num olhar sereno,

Quando encostaste o rosto suavemente

Deixando fluir a tua autenticidade,

E quando não esvoaçaste, porque estavas sempre aqui,

Onde a realidade existe.

És homem com asas no peito

De onde brotaram sonhos e medos,

Onde cada carícia tomava as proporções de um voo,

Onde houveram poemas que nunca escreveste

Mas que expressaste

no brilho intenso de embaixador dos céus!



A tua partida é o toque final de uma obra de arte.

Porque levas pedaços de todos nós

E os devolves nas memórias cheias de paraíso

do paraíso que ganhou o tom do teu azul,

Do azul que me contaste tantas vezes!

Nosso Herói!



Crystal

2011-10-22



Eterna Saudade



Tomás Ribeiro




17.10.11

Sedimentos do tempo





Enquanto o tempo se cala,
nas entranhas entalam-se verbos que se contorcem
querendo voar em gritos de fogo ao luar...

Momentos disfarçados a tinta revolta,
amordaçadas as memórias
em origamis, indecifráveis apertos de alma...

Assim segue um rio volumoso
que regressa ao seu caudal
e o mar fecha-se aos seus gemidos
no temor de todos os seus clamores
com sabor a mel
em favos de pele
que arrepiam em toques de sal...

Sedimentos cristalizados
que poisam adormecidos
enquanto o sol rasga as águas
que teimam faze-los tornar à margem de todas as horas!

20.9.11

Segredosdalua






Ela ergue-se com encanto e subtileza
para que a noite não chore, não escureça,
nem os olhares se percam do horizonte
de onde a esperança renasce a cada amanhecer!

Ela suspende-se no nada enquanto beija o mar
e prende-o como cauda de suas vestes extensas!
São gestos e verbos, nuances de sorrisos molhados de lágrimas...
e alma e corpo que bailam nos passos singelos da sinceridade!

Ela dá a mão delicadamente como quem reconhece
o momento de abraçar a quem precisa,
a quem em mágoas desliza,
a quem se perde e deixou de caminhar.

Ela conforta com uma canção
mesmo que lhe falte fôlego e voz.
Acende um véu entre a escuridão
ainda que seus olhos se fechem em dor!

Ela tem o dom de dar vida
mesmo que se sinta desfalecer em seus pés.
Dá côr a uma tela ferida
enquanto o seu jardim escurece sedento e só!

Ela tem nome de Luar,
nome de Lua,
tem nome de segredos abertos
em páginas de nuvens brancas
que a brisa sopra e verte... em nós!

1.9.11

sinto....

A noite vai alto, as pálpebras se erguem, o corpo e a alma exaustos reclamam... mas a mente decide... ou o coração... o tempo, por vezes, parece não responder nem levar o ontem consigo... e assim se perde o norte... na incerteza e no desmaio de tudo em que se acredita ou não...

9.8.11

Em (canto)



Sem mais nem menos...
tens um sabor a mar,
uma forma estranha de estar,
por momentos, dentro de mim.

Trazes o sal na pele dos sentidos,
a frescura nos dedos que dançam com voz,
e uma doce caricia que corre num rio sem foz!

Eu destilo esses compassos,
desenho todos os seus traços
e tento adivinhar um conto incerto.

Sem inventar as marés
recolho pedaços do que és
e traduzo no idioma das emoções.

Tudo é água quieta e dançante,
um mergulho termal relaxante,
uma neblina que se ergue em magia
em panos negros de chão.

Um pouco és tu,
um pouco também de mim,
um castelo sem nome, incompleto,
uma muralha translúcida que protege,
um lugar único de paz e encanto,
num estado líquido, solidificando,
Um tudo em tão pouco que se faz brilhar!

23.4.11

Amiga Marcante

Eu sonhava com a amizade
Como quem deseja uma flor que não murcha.
Eu pensava que amiga era infalível e omnipresente,
Como um sol que nasce sempre contente,
Como uma canção que nunca se apaga da memória.
Eu queria uma amiga perfeita,
Queria ser a sua eleita, a sua glória,
Só minha!
Sem que ninguém a pudesse resgatar de mim…
Mas eu fui crescendo e sonhando,
Continuei a acreditar que amizade é encanto,
Que amiga é quem não deixa de me sorrir.
Amadureci com a dura realidade
E mesmo assim nunca ousei desistir.
Amiga era a prioridade que eu sabia algures existir!
E é verdade!
Uma verdade tão igual à que sonhei!
Apenas melhor!
Porque amiga é um amor maior.
É a coragem de dizer a verdade e abraçar a dor,
É chorar também e deixar de dormir,
É voltar a levantar e sorrir
Quando preciso de mãos dadas às minhas mãos!
Amiga protege com a sinceridade,
Guarda o segredo fielmente,
Amiga dá cores aos sonhos esbatidos pela realidade
E afasta as nuvens da desilusão.
Eu encontrei essa Amiga!
Amiga que cresce com o tempo
Nem se afasta com a distância.
Que me proíbe de ser infeliz
E me ensina a ser de novo criança.
Amiga é aquela que marca a minha vida
Ontem e hoje
No seu aniversário!
Parabéns amiga!
Que me permites ser tua Amiga também!

Silenciosdeouro

15.4.11

O vento rouba-me o teu nome

Há um vento que me espera
Enquanto espero o som do teu nome.
Mas as correntes levam-no de mim numa maré sem volta
E a tempestade ergue-se gelando-me as entranhas.
Tenho as esperanças todas à solta
Divagam como folhas brancas vazias
De uma história por escrever, rascunho de medos e contenções.
Vejo teu sorriso estender-se e esfumar-se na neblina das tuas fraquezas.
Convertes as tuas forças em grãos de areia que vão e voltam
Sem que distem da mesma cova em que caíram.
Eu sou uma chama que te desvenda,
Sou um farol que temes fixar e alcançar,
Sou a maior das tuas delícias mais secretas, ainda por beijar.
Contentas-te com as mãos vazias
Quando poderiam sentir um oceano escorrer e brindar ao teu olhar.
Tens medo de ti.
Mas todos temos medo de nós.
E eu sou apenas tão fugidia quanto tu que acuso.
Sou tão frágil quanto as pétalas de uma flor
Que desfalecem num simples amargar
E perco as cores que me dás e roubas
Enquanto me tentas e me escapas
Com todos os mesmos medos que eu.

10.4.11

Da-me o teu sol




Tens fechado nas mãos o sol que abre o meu sorriso.
Os raios escapam por entre os teus dedos sem que te apercebas
E eu, secretamente, sou arrebatada ao teu regaço.
Olho-te demoradamente…
E és tu que eu acendo para brilhar em meu peito.
Contra todos os ontens, guardo-te para amanhã
E o tempo parece não se apressar…
Enquanto aguardo que os teus lábios sejam pombos brancos
Poisando em mim sem pudor!

21.3.11

Noite




A noite veste os campos e deita-se no mar.
A brisa acaricia seus contornos delicadamente
e a lua permite um olhar sereno e envolvente.
Olhas-me simplesmente.
Deixas que as palavras se escondam envergonhadas,
enquanto olhamos a noite como um leito de sonhos.
As mãos encontram-se timidamente
e um sorriso difarçado solta-se subtil.
Assim descobres-me entre pedaços dispersos de nada
e fazes-me regressar a mim, tal como sou,
cristalina e frágil, doce e meiga, alma encantada,
mulher que renasce!
Permito que o teu rosto deslize no meu,
e que os lábios se dilatem quentes e macios
no anseio inesperado de uma descoberta adocicada.
Fazes de mim um chama suave e perfumada,
tuas pálpebras fecham as minhas em carícias
e cada gesto demorado traz suspiros de profundo desejo.
Não me tocas,
vais tocando...
Sentes-me trémula, de tímida sensualidade,
vontade,
ansiedade e fulgor,
em teus braços envolvida com paixão.
Descobres-me enquanto permito a tua invasão,
adivinhas meus desejos e atreves-te desmedidamente...
Estás em mim finalmente.
Entrelaças-te na minha pele,
nas brasas de um encanto só meu,
nos secretos prazeres que só eu sei desenhar
a traços de lava escorrendo sem permissão...
Indefinidas as coordenadas,
perdidos os sentidos da razão,
asssim rolamos nos lençóis da noite,
nas labaredas que os teus dedos despertam em meus recantos,
nos orgásmicos gemidos que se sucedem
quando me arrebatas a um mundo de encantos.
Entra em mim e regressa,
volta na magia de todos os teus anseios,
na vertigem de todas as esperas,
e invade-me de prazer e gozo,
de estonteantes toques,
de beijos suaves...
beija-me com o sabor que nunca outros lábios provaram em ti.
Faz de mim um canteiro de flores,
planta em mim perfeitos odores
e da-me pétalas de todas as cores que o amor pode conter!
Mostra-me um sonho que nunca conheci,
sussurra-me de amor
e faz-me leito
onde vertes todas as tuas mais doces emoções.
Toca-me
e descobre os meus desejos virginais,
abre-me sorrateiramente e entra em mim
faz-me parte de ti enquanto a noite ainda nos inebria.

22.2.11

Um reflexo imaginário





Hoje celebro o “nós”.
Deixo que a mente esvoace nos poros de todas as descobertas,
Imponho silêncio para que a tua voz seja tão audível como naquele domingo.
Respiro de olhos cerrados para sentir de novo o teu cheiro, a tua pele e a temperatura de cada pedaço teu no meu.
Hoje eu perdi o pudor, perdi a contenção, rasguei as vestes que limitam a minha liberdade, pensei em mim, sem timidez nem subtileza, sem segredos nem máscaras, sem medo de todas as consequências de cada verbo.
Senti de novo aquele quarto, a média luz, os tremores da ansiedade que me petrificava, os espelhos e a cama redonda sem norte nem fim.
Senti-me em ti e tu em mim, os fluidos mesclados, os balbuceios apagados, os olhares perdidos de um amor inconfesso por palavras e que nem a dor tem poder de suspender.
Tenho as marcas de todos os teus movimentos, dos gestos, dos impulsos, do passear dos teus dedos em meus cabelos, do deslizar de teus lábios algures em mim em trilhos ditados pelo tempo.
Esse tempo que nos fugia das mãos como areia solta ao vento, mas que passou por nós como orvalho e molhou-nos de desejos perfeitos, de êxtase e prazer destinados a eternizar-se numa saudade testemunhada pelos corpos espelhados e fotografados sem pudor.
Nada mais importa, nenhum sorriso volta a nascer além deste momento.
Se aquele domingo acordasse hoje, no mesmo céu encoberto, na mesma rua, na mesma manhã enfeitiçada pelo anseio e pelo risco, ao som das mesmas melodias e pautado pelas mesmas promessas trocadas… eu renasceria!
Eu levei-me de novo ao mar que me fere, que me acalma, que me chama para um abismo único sem vida, mas que me arrepia de esperança em réstias de espuma branca!
Hoje apenas o som de uma flauta mágica gemeu em torno de todos os meus sentidos e abraçou-me neste vazio que é parte de mim ausente.
Então deixei que o encantamento me arrebatasse e menti á vida, cometi o maior de todos os enganos, mas perdoo-me no tempo e deixo-me de novo regressar ao nada que sou, uma metade que se esvai interminavelmente.
Hoje celebrei o dia em que de novo te fizeste sonho real em mim.
Um diamante puro que não conhece a realidade cruel nem se rende a percas ou desenganos, nem acredita nos gestos falsos sem pudor que teimam mancha-lo ou retirar-lhe a grandeza que ninguém é capaz de alcançar.
É apenas um amar eterno sem cobranças nem contornos obscuros, secreto e ameno, suave e tranquilo, inofensivo e perseverante, distante de todas as artimanhas malévolas de quem nunca conheceu o verdadeiro sentir amar.

6.1.11

Ao Mar




Vens na malícia desse bailado
De mil perfumes enfeitado
Enquanto disfarças teus perigos e me prendes…

Desmaias repetidamente em vénias soberanas
Desse teu azul rolante,
Desse teu olhar de amante,
Nessa majestade de manto estendido desafiando os céus!
E arrebatas-me o fôlego mais íntimo de todos os meus tremores…

Então enfeitiço-te deslizando meu corpo em ti,
Beijo-te sem pudor e rasgo-te infrutiferamente,
Porque embalas-me em silêncio roubando-me o norte
E vences-me com a suavidade dos teus lençóis…

Tu sabes que dissipas todas as minhas memórias,
Sabes que torno a ti sempre depois da fuga e do pânico das inglórias.

E tu continuas meu senhor e minha inspiração,
Arrepiando meus olhares mais atrevidos,
Meus lábios intumescidos, dilatando,
Naquele sorriso de sal e sol
Que apenas tu sabes acender cantando
Nas labaredas dos teus horizontes mais ardentes!
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