Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

29.4.09

SUBTILIDADES...
















Estranha, essa forma de estar, não estando,
Esse desconforto inquietante de querer, fugindo,
Um tal evitar deslizante e falho nas máscaras de cera…
Derretendo os disfarces no rubor de um sorriso…
E vai-se e volta-se, tentando o bailado subtil,
A magia que encanta e despe,
A voz sopra em ligações ténues,
Fala em tom de seda e rouba olhares…
Caem as vestes do pudor,
Relatam-se as nuances de poros suados,
Lábios, esses espelhos de água, molhados,
Estremecem na espera de um toque.
Mas vai-se e vem-se na tentativa,
Na demora deliciosa,
No fulgor que se incendeia…
Lentamente se expande ao luar,
Espreitam-se os dedos nas marés
Ondulações corporais de veludo, insinuantes,
E se percorre a longa jornada,
Em passos que surgem,
Que urgem
Entrega total.


S.

23.4.09

UM OCEANO PARA TI













Marés soltas e rolantes,
Espumas em chamas esbofeteiam o basalto,
O sol entre as nuvens envergonhado
E a verde manta de trapos que sobe desce suavemente,
São tesouros de orvalho e mar, de terra e fogo,
São coroa de ilha deitada no mar,
São verbo declamado nas lagoas pelo luar…
E neste recanto tão só e distante,
Nesta espera tranquila e poética de vulcão,
Neste ser insular, olho do mundo,
Nem por um segundo
A alma deixa de ser um além tão perto
De almas que se rendem ao sentido da vida,
À essência das turbulências da emoção,
De quem tem gente no coração
E sabe beijar num sopro apenas,
Numa palavra com penas
Que esvoaça na crista de um mar
Que é tão abismo quanto ponte…
Entre mim e ti!

Gotinhadagua (Na magia do nosso arco-iris)

s

19.4.09

Sol na Cascata














Enquanto cais com tua força em meus destinos
eu, apenas imóvel, me deleito ao sentir esse calor...
Sopra, de quando em vez, aquela brisa fresca
e as folhagens em redor dançam ao seu sabor...
Tudo se envolve em encantamento,
tudo é parte de um perfeito momento…

Em tudo se exprime um sentimento
e se colhem gestos perfeitos,
em harmonia com a inspiração
vertida nas águas ferventes
que no corpo vão esculpindo
um prazer e outro, docemente...

Paradisíaco, fantástico, mas real
onde o sonho se converte em vida
e a água encontra guarida
sob os raios de sol que nela poisam
guiando-a a um porto seguro...
um coração de mar lindo e puro...

S.

16.4.09

DOCE RIVAL

















Trarias flores silvestres em teu regaço
Se eu precisasse um dia de teu abraço?
Regarias teu jardim com meu pranto
Se eu perdesse da vida todo o encanto?
Quem seria eu ou tu sem nós?
O ser é a extensão do ser, as almas se dependem,
O mesmo ar penetra em todos e a ninguém se nega.
Porque deixamos a vida secar de sede?
Porque fazemos dela uma teia, uma rede,
De onde não alinhamos as emoções?
Sorrir é apenas uma miragem,
Vale mais a solidão egoísta e irreconciliável
Que a voz suave e humilde da igualdade.
Não se proíba a verdade!
Nela estão contidas as soluções das feridas,
Nelas se consolidam alicerces,
Com ela o caminho segue límpido
Como um rio tranquilo e doce…
Corre comigo cada maré.
Não te detenhas num sonho amargo e triste,
Em qualquer dúvida que existe,
Em qualquer sol que se esconde de ti!
Eu não sou um apenas nada com cores inventadas,
Sou ser, tu és ser, somos partes, não unos…
Sou o que tu és, choro também e rio,
Como, bebo, aqueço e tenho frio…
Preciso tanto de ti como tu de mim…
E assim se aprende o único segredo que a vida realmente tem!

S.

15.4.09

TELA DE PRAZER














Sem projecto, sem planos,
Aleatoriamente,
Perante o que é véu, vendado, desconhecido…
Apenas a imaginação,
Adivinhando a cor,
Num acto de coragem, de fervor…
Lançam-se leves pinceladas entreabertas
Destilantes,
Docemente brilhantes,
Imprimindo a espessa iguaria
Que é, na tela de seda, um céu azul…
Afastam-se os cortinados, tecidos de tentação,
Balbuciam-se palavras mágicas,
Permite-se a ousadia da imaginação…
E as nuances se entrelaçam delicadamente.
Está permitida a mente,
Acesos os desejos em ebulição geotermal,
Irredutível, permanente, magma fluido,
Gotas esporádicas roubando gemidos,
Ardores, tremores, suspiros astrais,
Leve beijo contracenando
Com os olhares dançando,
E a fantasia consagra-se.
Enquanto sufoca tentando renascer,
Retardam-se suas entranhas,
Em contenções estranhas,
Loucura fértil de campo florido
Que se inundará em breve…
Num breve que tarda,
Num daqui a pouco que não chega,
Mas vem…
As comportas se vão soltando,
As mãos suando,
E eis recém-nado
O grito fenomenal…


S.

Invisivelmente...













Foi-se embora...
Deixou o ruído ensurdecedor das plumas que caíam,
perdendo seu esvoaçar, um a um...
Desbotou os sonhos de diamante, de amante, errante,
na bruma dos nimbos que se avolumaram...
Deixou o outrora,
como legado de um baú vedado ao mundo,
e lá rendeu o seu secreto delírio, insuportável horror...
Não reaprendeu uma outra manhã de Primavera,
apenas ausentou de si a espera,
e sobrevive nos espinhos com que resguarda aquele amor...
Ainda que o ninho aqueça nas noites invernais,
por mais suave que chegue a brisa que o beija,
nas melhores iguarias há um amargo de fel,
um estranho disfarce de mel,
que recolhe na colmeia da memória...
Não é triste, nem só, nem perdido,
o espaço é que se tornou incapaz
de conter tanta felicidade secreta, tanta paz...
Não é solitário sofrido,
é um duo, duplicidade unificada, bivalve,
uma só certeza germinada nas promessas seladas, eternas.
Não se ergue aos ventos nem rasga oceanos, mas é ave,
estranhamente angelical, jamais denunciado,
apenas por ela, nela, a ela desvendado...
Foi-se embora das torrentes presenças esfomeadas,
das ternuras abissais que nunca possuiu,
transmutou-se para poder ser quem é em si mesmo.
E reencontrou-se no amor eterno que o possuiu...
Invisivelmente...

S.

Palestra de um desejo














Na dimensão crescente de uma textura inventada,
Condensados os momentos e as confissões,
Há uma palavra secreta, muda, cega, calada…

Não são cristais de timidez em auroras boreais,
Não são espelhos que duplicam uma fantasia,
Mas poemas de maresia estendidos nos areais…

Sem toque disfarçado ou empurrado, acidental,
Para que não se quebre o castelo de gel,
Olha-se então, num beijo não consumado, transcendental…

O arrepio, a brisa, o arrebatamento recém- suado,
A envolvência desejada que duplica no fôlego,
O ter, não tendo, em conquista, desembrulhando a voz…

As mãos quietas, corpos distantes, fogo e silêncio,
Neblina dos sentidos germinando falésias de vertigens
Resumidas na escalada do desejo retido a ferros pelo tempo…

A fúria e o pudor desembainham e esgrimam,
Maestria e rubor entranhados na pele que vai vencendo,
E os poros celebram em tremores inextinguíveis…

Solta-se o brado da libertação, quebra-se o cofre dos anseios,
Despejam-se os beijos, jorram os dedos nas searas de veludo,
E acontece, em tempo sem medida, de sol a luar, tanto e tudo…

Na palestra de lençóis de água de sal e mel, licores mesclados,
Salpicos de magia em sons monossilábicos,
O castelo demolido, hasteado o estandarte da consumação…

O sorriso despe-se em gargalhada que cerra as pálpebras,
O fulgor de lava incandescente se deita deliciado,
E as palavras brincam com os desejos ainda insaciados…

Renascem rugidos, reabrem-se flores ao sol,
Embrenham-se cabelos nos dedos
E pede-se mais, sem saber esperar, sem trovões, sem medos…
Apenas um outro estado, talvez mais húmido, menos sedento,
Mais consciente, menos detido, pretendido, alcançado,
Em momento, de loucura e delírios, consumado…

8.4.09

AS LÁGRIMAS
















Um dia.
A hora não teve expressão.
De um momento para o outro choveu na alma.
Uma nuvem se inflamava sem alerta.
No esconderijo das emoções se erguiam fortalezas que, sem saber, eram translúcidas.
Apenas o olhar teimava em mentir...
Adiado o Outono, mas inevitável.
Apenas sentir o corpo esfriar sob o manto único de rio com sabor a sal,
a razão tocou mansamente...
A dor cresceu, não se sabe bem de onde,
mas alimenta-se e apodera-se impondo trajectos a que o próprio fôlego se submete.
A primeira partícula húmida se enche
e, suspensa, num brilho de falsa beleza,
ameaça descer para que o trilho seja traçado
no rosto, nas mãos, no colo e no chão.
Despede-se do olhar triste
e vem descendo contra vontade,
escolhendo poros, curvas, vales...
Qual estrela cadente
lança o vertiginoso trajecto que outras seguirão,
como filhas recém-formadas...
Gota.
Lá se foi.
Chegou ao chão inaudível, como previsto.
Parte de si era ainda trajecto,
deixado para trás,
como quem não quisesse descer...
Desmaiada, aguarda as demais que a aconcheguem,
talvez num manancial...
Não há minutos que parem nem sol que estanque.
Agora os olhos pesados não suportam mais o peso que o coração tenta imprimir
enquanto parece querer explodir...
Lá vêm!
Esbeltas e roliças, nuas e cristalinas.
Tentadora vista de cascata majestosa
que desconhece rochedos,
mas tem medos
e pele de seda...
Algumas saltam para as mãos
fazendo-as tombar sem forças.
Descaem os medos pedindo misericórdia,
e apontando os pés que parecem ondulantes...
É o milagre do nascimento de um choro longo e triste.
Só assim as nuvens se desvanecem por um tempo
enquanto a alma se refrigera em seus passos
para mais um momento de crescimento.
Cresce-se.
Num total de amargura que se sente
como o espremer de uma azeitona atormentada,
de onde ainda se formará o precioso azeite que purifica e restaura...
As lágrimas...
Elas nunca estão sós!
Não conhecem a dor da solidão nem do desamor!
Isso sentimos nós!
As lágrimas limitam-se a desfilar as suas vestes cristalinas,
puras e de beleza inebriante,
cientes de que os olhares poisam em seus corpos
como aves nos ramos das árvores,
numa balada suave de encanto e alegria
que o coração desconhecia
mas que, nessa corrente,
vai, decerto, um dia,
reencontrar...

S
08 Setembro 2007

AMANHÃ, O SORRISO...


















Não queria que fosse assim!
As flores em volta parecerem incolores,
as estrelas baças, as árvores cansadas...
Não sinto aquele calor de sol e chama
entre braços...
Os pirilampos recolhidos não me visitam,
Nem as rãs nos charcos dão-me serenatas!
Deslocou-se o sorriso de mim!
Deixaram-me assim!
Quando dei
ainda pensei
nada receber,
apenas perceber
que consegui dar...
Mas até isso pareceu fragmento.
Esvaziados esses momentos
em que fui eu a não pensar em mim...
As verdades que disse podiam ser escritas,
fariam estradas bonitas,
que levar-me-iam a mãos dadas,
a amizades sólidas.
Mas foram gélidas
essas mãos que me sugaram amor,
rasgaram-me em dor,
apagaram meu brilho aparente...
Não sabem que, mesmo doente,
minha alma clama em seu silêncio
e em si mesma se renova.
Amanhã dará prova
que não é alma triste,
que mesmo esquecida, existe.
E, nas suas grutas, há uma luz,
há tesouros que ninguém conhece
porque não soube desvendar
nem quis desfrutar
tanto amor que tem para dar...

5 Novembro 2007

6.4.09

Hoje, o outrora de amanhã...













Fui assim,
como quem não arranca rumo ao definido,
saltitando aleatoriamente nas pedras recordadas,
qual gota que tenta subir o rio perdido.
Nada de novo, a não ser umas pequenas preciosidades,
umas simples aspirações que dariam outras madrugadas ,
aquelas simples emoções que projectei um dia
sem certezas de poderem ser horizonte merecido, alegria.
Não rasguei nada.
Cada instalação da exposta grandeza tão pobre
me foi cenário de alma, nobre,
a qual não me proponho condenar.
Perder tempo sem te-lo nas mãos é insano,
mas tributa-lo no ponto de fuga mais além
é dar-lhe filhos que a vida não tem
se não for eu a gera-los com a vontade de mim...
Recolhi apenas o que pude lá deixar sem esquecer,
molhei-me na frescura dos amores e das fantasias,
abracei de saudade os rostos e as alegrias
no gosto secreto de ainda ter algumas comigo hoje.
E então fui e voltei num suspiro profundo de sol,
numa resma de pensamentos expandidos
que estendi no quintal pela manhã, qual lençol...
Olhei-os, ordenadamente coloridos, e meu sorriso floriu
como se instantaneamente brotasse de mim,
e me mostrasse como hoje quero e devo voar
para dar ao agora a beleza do outrora de amanhã!

S

3.4.09

ACONCHEGO

Noites sem estrelas!
Apenas a lua insiste em ficar!
Não fala, nem canta, não se move,
apenas me deixa contempla-la.
Vejo as casas escuras, janelas que luzem,
sombras indefinidas que dançam
nas brisas que as seduzem...
e, mais adiante, o mar, espelho negro,
mágico, que embala e sussurra
versos que não posso traduzir.
Tu me achaste assim, perdida,
cantaste em meu peito a pétala
de uma roseira florida.
Dança comigo sem música!
Apenas balança com as ondas
e olha-me no luar.
Teu abraço me aconchega em tua voz,
e me prendes sem correntes
apenas com o que sentes,
e arrepias-me num beijo calado.
És meu ninho quente e protector,
meu barco, meu farol,
minha cama, meu lençol,
meu medo de querer
um sonho que não posso ter!
É denunciante a tua expressão
quando meu olhar te busca e deseja,
quando minha mão, teu rosto beija,
e encontra doce paixão!
Mede a largura dos teus abraços!
Cola-os em mim definitivamente.
Adormece comigo ao luar,
e quando a manhã acordar,
não se vai o encanto,
fica o alento
de continuar a sonhar!

S
28Novembro2007

AMOR

Olhar um vazio e preenche-lo
com a silhueta daquela voz que dança no pensamento
e esperar que ganhe forma e corpo...
Repetir seu nome na tentativa de possui-lo,
não escreve-lo para que não seja roubado,
ou visto, invejado, ou querido...
Querer possuir sem, contudo, demonstrar,
pois afinal, amar é pertencer e dar!
Chorar sem precisar... apenas porque a ausência dói,
como se algo em nós faltasse!
Se amar não fosse ter, querer, unificar...
porque doeria tanto a fuga, a distância,
o silenciar?
Ser...
só é possível sem metades.
Amar é unidade, não fragmento.
Saudade bilateral, mutualismo,
simbiose no desejo e na verdade,
sonho comum, mesmo que impossível.
O amor não é banal, gasto, esquecido, ultrapassado!
A palavra parece esgotar-se em bocas indignas
as letras sofrem e os sentidos divergem,
mas a verdade prevalece!
Porque há quem ame, quem volte a amar,
quem não desista de escrever que é seu sonho
um amor de vida inteira!
Mas querer ser amado é um direito,
de quem descobre que deve amar primeiro!

S
12Outubro2007

AREAL DOURADO















Estendo-me no meu areal dourado e negro
que me envolve e bebe,
de mim,
cada gota de sal...
Nem o sol lá no alto percebe
se o mar é maior que o meu pranto.
As estrelas calaram-se ante meu canto
e a minha lua não volta a ser a tua.
Já de costas ao mar, não o olho
para não me trazer o que quero esquecer...
Sei-o de cor, de azul e de sonho,
mas triste por me ver sofrer...
E escuto ainda o gemido
de suas ondas perdidas,
como piano desafinado
pelo poema apagado...
Letras que se foram
deixando apenas um rasto de ausência...
Não sei se fujo, se procuro,
se espero ou desisto...
nem a cor dos meus dias se define,
nem as minhas poesias
consigo dar à luz!
Como se algo em mim
me calasse assim...
como uma gota que cai
num copo de água,
e se vai...

S.
17Outubro2007

1.4.09

Reencontro do Eu




















Há uma falésia entre mim e eu.
As suas escarpas de vitral desbotam sentidos,
vertem-se rumo a um fio de água doce, distante,
que lisonjeia o raio de sol que, em tormentos, o alcança...
Deste lado está o olhar e o tacto, o cheiro, a voz...
O arrepio que emerge qual relvado regado
perante a visão do sublime mais além do toque.
Eu toco-me assim, de fora para dentro de mim,
naquele passo tão assustador quanto majestoso,
enquanto tremo e temo a fenda que rasga o sonho
mas que me faz alcança-lo um pouco mais...
Na força do querer esvoaço sem ver,
escutando apenas a brisa que passa por mim,
e o sorriso se incha em meus lábios
em compassos sábios,
esquecendo o que sou
para passar a ser eu...

S
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