Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

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8.4.09

AS LÁGRIMAS
















Um dia.
A hora não teve expressão.
De um momento para o outro choveu na alma.
Uma nuvem se inflamava sem alerta.
No esconderijo das emoções se erguiam fortalezas que, sem saber, eram translúcidas.
Apenas o olhar teimava em mentir...
Adiado o Outono, mas inevitável.
Apenas sentir o corpo esfriar sob o manto único de rio com sabor a sal,
a razão tocou mansamente...
A dor cresceu, não se sabe bem de onde,
mas alimenta-se e apodera-se impondo trajectos a que o próprio fôlego se submete.
A primeira partícula húmida se enche
e, suspensa, num brilho de falsa beleza,
ameaça descer para que o trilho seja traçado
no rosto, nas mãos, no colo e no chão.
Despede-se do olhar triste
e vem descendo contra vontade,
escolhendo poros, curvas, vales...
Qual estrela cadente
lança o vertiginoso trajecto que outras seguirão,
como filhas recém-formadas...
Gota.
Lá se foi.
Chegou ao chão inaudível, como previsto.
Parte de si era ainda trajecto,
deixado para trás,
como quem não quisesse descer...
Desmaiada, aguarda as demais que a aconcheguem,
talvez num manancial...
Não há minutos que parem nem sol que estanque.
Agora os olhos pesados não suportam mais o peso que o coração tenta imprimir
enquanto parece querer explodir...
Lá vêm!
Esbeltas e roliças, nuas e cristalinas.
Tentadora vista de cascata majestosa
que desconhece rochedos,
mas tem medos
e pele de seda...
Algumas saltam para as mãos
fazendo-as tombar sem forças.
Descaem os medos pedindo misericórdia,
e apontando os pés que parecem ondulantes...
É o milagre do nascimento de um choro longo e triste.
Só assim as nuvens se desvanecem por um tempo
enquanto a alma se refrigera em seus passos
para mais um momento de crescimento.
Cresce-se.
Num total de amargura que se sente
como o espremer de uma azeitona atormentada,
de onde ainda se formará o precioso azeite que purifica e restaura...
As lágrimas...
Elas nunca estão sós!
Não conhecem a dor da solidão nem do desamor!
Isso sentimos nós!
As lágrimas limitam-se a desfilar as suas vestes cristalinas,
puras e de beleza inebriante,
cientes de que os olhares poisam em seus corpos
como aves nos ramos das árvores,
numa balada suave de encanto e alegria
que o coração desconhecia
mas que, nessa corrente,
vai, decerto, um dia,
reencontrar...

S
08 Setembro 2007

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