Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

28.10.09

Lágrima de Mel






Sentei-me naquele degrau de pedra
e olhei o chão molhado entre meus pés...
Quase, ali, se espelhavam momentos,
vozes, declarações e suspiros...
Calada... ao som dos sentimentos,
deixei chover a minha emoção!
Uma nuvem branca e macia
era o meu coração, a minha poesia...
Meus dedos, por entre aquele luar,
tocaram meu rosto em carícias,
como se tocassem num mar...
Levei-os aos lábios quentes,
provei-os e concebi um desejo.
Repeti, na esperança de um amanhã,
esta vontade prometida...
conseguida.
Suspiro essência de felicidade,
depois da alma inundada
por lágrimas de mel, na verdade...
mel de quem se sente amada...
Lágrimas caindo em lábios que sorriem,
sorrisos doces e de rubor,
em tom de uma roseira em flor
sem espinhos, regada de amor...
Feliz!
Your litle drop




S.

Orquestra Mágica












Todos os movimentos se aquietam.
As brisas calam-se em vénia prostradas,
as flores recolhem-se
e as folhas não caem... ainda...
A alma brinda
e os poros dilatam silencio
num timbre tão audível quanto águas serenas...
Cobertos os dedos de penas,
compõem promessas,
desenham poemas,
revelam tesouros bebíveis,
como néctar de um fruto divino
que declama na pele
um caminhar peregrino
de prazer...
Curvilíneas as pautas,
onde o bailado é um precioso deslizar
de suspiros encantados,
de ditongos soletrados,
de arrepios rasgados na vara de um violino...
Encantos de menino
feito homem no enlace arrebatador
que é estranha loucura
sem contorno, abissal...
Chegam calados pelo beijo,
despem-se do real
rumo ao desejo,
rostos numa trança perfeita
onde tudo se canta
sem pauta nem compasso,
ao ritmo do abraço
na escuta delicada do sentir.
O coração dilata,
as mãos se rendem,
a vontade levita
e cifradas estão as emoções.
Agora podem cair as folhas,
podem abrir-se as flores,
pode chover,
trovejar,
pode o sol girar
e lua incandescer...
A canção não será afogada,
a clave não vacilará
nas marés dos tempos...
É orquestra invisível
que a sombra não ousará ofuscar...



S.

Quietude Lunar















Quietude abraçada a mel e a cheiro-flor...
Livre a intocável magia, jardim suspenso,
assobio de oceano e concha,
lua feitiço, fábula mito...
Contam-se as distancias inexistentes,
franzidas em nada de água fugida,
o abraço omnipresente, invencível,
de uma nunca despedida...
O areal responde
a versos que absorveu outrora,
restaura pegadas nunca apagadas pelo tempo,
e na sua grandeza eu contemplo
um intemporal cenário de alma.
Tranças de arrepios arrebatados,
chão molhado de suor e prazer,
declamações exaustivas,
falésias de encantamento...
As dunas estendem-se em sorriso aberto,
soletram longos suspiros
que o mar bebe e se sacia,
incontrolavelmente,
sedento sempre
de mais uma gota escorrida...
Contemplo-te, luar sereno
e num mundo tão pequeno,
encontro-te maior que o infinito
na amplitude dos teus encantos
que apenas eu
e o teu mar
ousamos perscrutar....

S.

Emoções Indúbias














Rasto de brilho.
Fragrância incendiada no delírio...
Colírio
para um olhar perfeito além do imediato...
Detidas as elacções do nunca confesso,
desvendadas as loucuras
que segregam desejos nunca extintos...
Castelo de toques,
de palavras profundas e concretas,
de carícias perfeitas
inatingíveis pelos invernos agrestes...
Vitral de estampa definitiva,
homogeneizadas as almas
num fundido crescente de loucura e realidade.
Definidas as linhas do sonho,
estendidas ao palpável,
desdobradas as emoções indúbias,
adquirido o edital perpétuo.
A leveza do sopro quente,
em voz terna e arrepiante,
entranha nos instantes do dia,
inflama nas noites,
e é bálsamo para as madrugadas de fogo...
Tudo acontece de novo...
o perfume do silêncio,
o rasgo do canto,
o fervor das emoções fluídas nas horas,
e o luar cala-se reverente,
sustendo a respiração,
para que o sonho se conserve
inquebrável...

S.

23.10.09

Essencial

















Essência translúcida...
Crescente luar de encanto e veludo
de onde escorrem fábulas de gestos imaginados.
Cores que falam ao vento,
olhares que declamam telas enfeitiçadas,
passos de lã discretos,
momentos de plena absorção...
Os sons dançam espelhados entre as marés,
a alma desperta para uma emoção
e segue calada pelos cumes fantásticos da vida.
Voa-se
enquanto se deixam lágrimas aos pés,
basaltos vencidos,
caminhadas sem rumo, cessadas.
Tudo cerrado pela neblina do sublime,
embaciado pelo raio de sol que se estende,
vontade contemplada.
Delicados gestos se avolumam
no entendimento da discrepância
entre o ego e a doçura,
da ferida ao floco de suavidade
em palavras meigas
que penetram
na profundeza inescrutável do inflexível...
Navegados os mares do destino
que os astros não traçam,
mas sim a transcendental e inexplicável
existência do amor,
o invencível é leve e táctil
como a pétala de uma flor
que se toma na mão...
Tudo gira então!
As brisas beijam-se esvoaçando vales,
da-se o abraço quente do sol e do luar,
acendem-se as tochas vulcânicas
disparando vertigens pela noite
e o futuro parece acreditar
que foi roubado pelo sonho.
Não é pecado!
É fragrância exclusiva
que os deuses semearam
nas almas cristalinas
para eterniza-las
na essência
que faz delas
o cristal da mais perfeita emoção...


S

20.10.09

bocas Aliadas











Levemente,
num olhar de fôlego quente,
enquanto a realidade desmaia,
a voz anestesiada não verbaliza
o que a alma traduz.

Atrasa-se a vontade
no anseio vulcânico de possessão,
degusta-se,
aprende-se,
e lê-se o prelúdio vezes sem conta.

Somos montra,
casulo livre em asas de sol,
encanto incómodo, labirinto...
coordenadas inexcrutáveis
apenas reveladas ao sentir.

Agora sim,
pausadamente
cada lábio se sente,
cada gota geminada,
respirar que se abraça,
quente,
presente...
falésia em queda livre sem chão,
paraíso nu cantado por gemidos,
tremores crescentes,
suspiros detidos,
beijo.

intermináveis versos calados,
manjar de loucura,
sabor inebriante,
movimento levitacional,
clamor de uma pertença.

O infinito será inválido
enquanto a grandeza se avoluma
no enlace perfeito de bocas aliadas...

Oh suspiro leve e profundo
de satisfação perfeita!
O coração se deleita
e as estrelas envergonhadas
culpam o luar
de uma noite mágica.

Apenas incompletas as carícias,
estrangulado o final...
para que seja um continuar perfeito,
inacabado,
pronto a renascer
num deserto morto
onde se torna mais forte
esse beijo
que o desejo
tornou insaciável
para sempre.

S.

8.10.09

Baloiços Dançantes









Cumpridos gestos impensados,
Alargados os prazos dos sonhos…
A mente escapa-se a ponderar
As subtracções emocionais,
O destempero dos dias,
Os esconderijos da alma…
Fingida calma,
Enterra-se viva a amizade,
A verdade,
E camuflada está a consciência.
Não é coincidência
Nem com os invernos,
Nem com as chuvas
Ou temporais da vida.
É a nossa fugida de nós,
É construir cadeias num chão triste e vazio,
É esconder o sol,
Ser frio,
Incerto,
Ser ninguém, portanto.
Mas assim selados estão os aromas,
Esbatidas as cores
E o olhar esquece a ilusão,
A noite é o desconhecido,
A inspiração, uma iguaria queimada,
O amor, uma vã repetição
De palavras decadentes…
Já não há natais com presentes,
Contabilizam-se famílias
E amigos inexistentes.
Já nem há com quem discutir,
Não se chora,
Não se ri.
Forçadas as emoções
Pelos embriagados fingimentos
Perante estranhos
Que nos ladeiam
Sem nome…
Somos baloiços vazios
Dançantes ao vento,
Ressequidos num sol ardente,
Sem destino
Apenas movimento
Esbofeteados pela corrente
Daqueles
Que também se tornaram ninguém.


S.

5.10.09

Encruzilhada de um Destino















Estrada perplexa
Ladeada de árvores prostradas.
Riacho recortado em leito nu,
Destino oculto,
Incolor…
Dor.
Olhos quietos e vazios,
Perca!
Um ter imperfeito,
A lamúria da partilha,
Queda!
Vontade perturbada,
Incêndio gélido,
Fuga inconcebível,
Cómoda inquietude
Que supre silêncios.
Conformam-se as esperanças,
Dilata-se a alma,
Compõem-se poemas e canções,
Ri-se, chorando sem lágrima…
A vida sobrevive
Enquanto não há solidão,
Apenas uma certeza,
Sem Outono nem Verão,
É Amor!


S.

2.10.09

Trilhos de Água














Trilhos…
Contornos abismais,
Trépidas escaladas,
Distâncias sem meta…
O relento dispersa as folhas rascunhadas,
Os riscos de alma,
A substância sublime indescritível,
A vontade e a perca…
Esvazia-se e atola-se
Nas saudades,
Na paixão incompreensível
De amores de outrora,
Até que a lágrima se perde,
Beija a espumada tentação,
E apenas promete regresso.
Ainda que se sinta o abraço,
Dadas as mãos da caminhada retomada,
Os rochedos permanecem estáticos.
No não querer reside a intransponibilidade,
Porque não se apaga partes que são do eu.
Todas as palavras que se bebeu,
As canções que desdobravam a alma,
Os estranhos pensamentos concomitantes,
Nada foi em vão,
Não obstante a dor resultante das impossibilidades…
Confidentes, os duros cegos e mudos,
Permanecem perante o olhar,
Guardando segredos invioláveis,
Confessas culpas,
Crimes de emoções divinais,
Pedaços de vida…
Na verdade são feridas
Que não saram, felizmente,
Porque, na realidade,
Quem nega mente,
São pedaços de intensa felicidade.
È assim que nascem os mares,
Nas lágrimas felizes e tristes,
Nos rios de sonhos que desabam,
Nos segredos de alma vertidos,
Devolvidos em saudades
Pelas marés.


S.
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