Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

25.9.12

Lágrima nua







Aprendi a alimentar-me de dor
A suportar o amor imenso,
A deixa-lo desperdiçar no riacho do tempo
A apaga-lo sem sucesso…

Habituei-me ao sonho,
Esqueci a ilusão,
Porque a realidade do que sou
Me basta
Para que o coração
Continue ardente,
Carente,
Na busca de um nada
Que nunca terei…

Mas nesse devaneio sobrevivo,
Vivo,
Sou eu mesma,
Conhecida de mim,
De quem me desvenda,
De tantos quantos me doem,
Me beijam,
Me saciam,
De fome…

A quem me despe sem classe
Eu devolvo ao seu nada
Que é menos do que o meu...
Porque afinal eu sou tanto!
Aquele enorme quanto
Que tu desejas em secreto,
E não denuncias ao certo,
Pela dúvida
De que eu seja
Aquela que te beija
Como ninguém ousou,
Com alma,
Com suspiro e beleza,
Com a firme poção da vida...
E te convida
A uma dor eterna
De amar e amar…

16.9.12

O vinho do meu corpo




Enquanto tu, poema flamejante,

desces-me a pele vindimada,

soletras tua sede com desvario

e imprimes-me em telas de areal deitado!

Pudera eu decifrar meus balbuceios

na vertigem de uma noite descalça,

e nas pausas do teu fôlego apressado

respirar profundamente arrebatada!

Sacia-te no meu colo dilatado!

Que a tua fome se despeça lentamente

e que meus aromas sejam destilados

finalmente,

entre os teus.

3.9.12

Quem?







Quem és para que as chamas do teu nome me consumam por dentro?
Quantas folhas mais cairão em mim ateando este amor?
Quem poderá responder-me nas horas tristes,
Nas eternidades vazias em que és apenas sombra...
E nas dores que me despem de vida a cada anoitecer???
Quem me abraça sem que doa,
sem que se quebrem as minhas frágeis ilusões,
sem que se queime com o meu incenso...?
Eu viajo entre rodeios vocábulos que me seduzem
e permito-me a devaneios encurtados pelo medo,
enquanto me disto do que anseio
para que em meu seio
não poise mais um sonho
desmaiando nas minhas desilusões...

1.9.12

Pontes quebradas






Não estranhes o meu silêncio tatuado,
nem as marcas de um som rasurado,
ou as respostas vazias sem nexo!
Não estranhes o sonho desconexo
que alimento de fome e sede,
abandonado numa rede
ao relento de um tempo perdido...

Não há razão para chorar
apenas vontade de espremer
os tecidos áridos do coração,
sacudir as cinzas envelhecidas
e entulha-lo de esquecimento...

Não te admires
de eu ser a chama intensa
que esconde uma fragilidade perspicaz
sob o sedutor olhar inventado
enquanto cá dentro desmaiado
o amor corrói.

Não te espantes
com a fuga desenfreada,
nem com as palavras ressuscitadas
de um outro momento de glória
que se foi calando
ainda que na memória
seja um estandarte flácido
que define a nacionalidade
do que sinto...

Não te surpreendas
quando eu me cobrir de nuvem
deixando suspensas as pontes que te distanciam
porque enquanto não as vejo
desconfio que a dor não cresce
nem choro
porque as razões estão nubladas
pela cegueira inventada
para que eu sobreviva ainda
um dia de cada vez.
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