Entrevista com Sidónio Bettencourt na RDP Açores

Just a Silent thought to share

28.10.09

Lágrima de Mel






Sentei-me naquele degrau de pedra
e olhei o chão molhado entre meus pés...
Quase, ali, se espelhavam momentos,
vozes, declarações e suspiros...
Calada... ao som dos sentimentos,
deixei chover a minha emoção!
Uma nuvem branca e macia
era o meu coração, a minha poesia...
Meus dedos, por entre aquele luar,
tocaram meu rosto em carícias,
como se tocassem num mar...
Levei-os aos lábios quentes,
provei-os e concebi um desejo.
Repeti, na esperança de um amanhã,
esta vontade prometida...
conseguida.
Suspiro essência de felicidade,
depois da alma inundada
por lágrimas de mel, na verdade...
mel de quem se sente amada...
Lágrimas caindo em lábios que sorriem,
sorrisos doces e de rubor,
em tom de uma roseira em flor
sem espinhos, regada de amor...
Feliz!
Your litle drop




S.

Orquestra Mágica












Todos os movimentos se aquietam.
As brisas calam-se em vénia prostradas,
as flores recolhem-se
e as folhas não caem... ainda...
A alma brinda
e os poros dilatam silencio
num timbre tão audível quanto águas serenas...
Cobertos os dedos de penas,
compõem promessas,
desenham poemas,
revelam tesouros bebíveis,
como néctar de um fruto divino
que declama na pele
um caminhar peregrino
de prazer...
Curvilíneas as pautas,
onde o bailado é um precioso deslizar
de suspiros encantados,
de ditongos soletrados,
de arrepios rasgados na vara de um violino...
Encantos de menino
feito homem no enlace arrebatador
que é estranha loucura
sem contorno, abissal...
Chegam calados pelo beijo,
despem-se do real
rumo ao desejo,
rostos numa trança perfeita
onde tudo se canta
sem pauta nem compasso,
ao ritmo do abraço
na escuta delicada do sentir.
O coração dilata,
as mãos se rendem,
a vontade levita
e cifradas estão as emoções.
Agora podem cair as folhas,
podem abrir-se as flores,
pode chover,
trovejar,
pode o sol girar
e lua incandescer...
A canção não será afogada,
a clave não vacilará
nas marés dos tempos...
É orquestra invisível
que a sombra não ousará ofuscar...



S.

Quietude Lunar















Quietude abraçada a mel e a cheiro-flor...
Livre a intocável magia, jardim suspenso,
assobio de oceano e concha,
lua feitiço, fábula mito...
Contam-se as distancias inexistentes,
franzidas em nada de água fugida,
o abraço omnipresente, invencível,
de uma nunca despedida...
O areal responde
a versos que absorveu outrora,
restaura pegadas nunca apagadas pelo tempo,
e na sua grandeza eu contemplo
um intemporal cenário de alma.
Tranças de arrepios arrebatados,
chão molhado de suor e prazer,
declamações exaustivas,
falésias de encantamento...
As dunas estendem-se em sorriso aberto,
soletram longos suspiros
que o mar bebe e se sacia,
incontrolavelmente,
sedento sempre
de mais uma gota escorrida...
Contemplo-te, luar sereno
e num mundo tão pequeno,
encontro-te maior que o infinito
na amplitude dos teus encantos
que apenas eu
e o teu mar
ousamos perscrutar....

S.

Emoções Indúbias














Rasto de brilho.
Fragrância incendiada no delírio...
Colírio
para um olhar perfeito além do imediato...
Detidas as elacções do nunca confesso,
desvendadas as loucuras
que segregam desejos nunca extintos...
Castelo de toques,
de palavras profundas e concretas,
de carícias perfeitas
inatingíveis pelos invernos agrestes...
Vitral de estampa definitiva,
homogeneizadas as almas
num fundido crescente de loucura e realidade.
Definidas as linhas do sonho,
estendidas ao palpável,
desdobradas as emoções indúbias,
adquirido o edital perpétuo.
A leveza do sopro quente,
em voz terna e arrepiante,
entranha nos instantes do dia,
inflama nas noites,
e é bálsamo para as madrugadas de fogo...
Tudo acontece de novo...
o perfume do silêncio,
o rasgo do canto,
o fervor das emoções fluídas nas horas,
e o luar cala-se reverente,
sustendo a respiração,
para que o sonho se conserve
inquebrável...

S.

23.10.09

Essencial

















Essência translúcida...
Crescente luar de encanto e veludo
de onde escorrem fábulas de gestos imaginados.
Cores que falam ao vento,
olhares que declamam telas enfeitiçadas,
passos de lã discretos,
momentos de plena absorção...
Os sons dançam espelhados entre as marés,
a alma desperta para uma emoção
e segue calada pelos cumes fantásticos da vida.
Voa-se
enquanto se deixam lágrimas aos pés,
basaltos vencidos,
caminhadas sem rumo, cessadas.
Tudo cerrado pela neblina do sublime,
embaciado pelo raio de sol que se estende,
vontade contemplada.
Delicados gestos se avolumam
no entendimento da discrepância
entre o ego e a doçura,
da ferida ao floco de suavidade
em palavras meigas
que penetram
na profundeza inescrutável do inflexível...
Navegados os mares do destino
que os astros não traçam,
mas sim a transcendental e inexplicável
existência do amor,
o invencível é leve e táctil
como a pétala de uma flor
que se toma na mão...
Tudo gira então!
As brisas beijam-se esvoaçando vales,
da-se o abraço quente do sol e do luar,
acendem-se as tochas vulcânicas
disparando vertigens pela noite
e o futuro parece acreditar
que foi roubado pelo sonho.
Não é pecado!
É fragrância exclusiva
que os deuses semearam
nas almas cristalinas
para eterniza-las
na essência
que faz delas
o cristal da mais perfeita emoção...


S

20.10.09

bocas Aliadas











Levemente,
num olhar de fôlego quente,
enquanto a realidade desmaia,
a voz anestesiada não verbaliza
o que a alma traduz.

Atrasa-se a vontade
no anseio vulcânico de possessão,
degusta-se,
aprende-se,
e lê-se o prelúdio vezes sem conta.

Somos montra,
casulo livre em asas de sol,
encanto incómodo, labirinto...
coordenadas inexcrutáveis
apenas reveladas ao sentir.

Agora sim,
pausadamente
cada lábio se sente,
cada gota geminada,
respirar que se abraça,
quente,
presente...
falésia em queda livre sem chão,
paraíso nu cantado por gemidos,
tremores crescentes,
suspiros detidos,
beijo.

intermináveis versos calados,
manjar de loucura,
sabor inebriante,
movimento levitacional,
clamor de uma pertença.

O infinito será inválido
enquanto a grandeza se avoluma
no enlace perfeito de bocas aliadas...

Oh suspiro leve e profundo
de satisfação perfeita!
O coração se deleita
e as estrelas envergonhadas
culpam o luar
de uma noite mágica.

Apenas incompletas as carícias,
estrangulado o final...
para que seja um continuar perfeito,
inacabado,
pronto a renascer
num deserto morto
onde se torna mais forte
esse beijo
que o desejo
tornou insaciável
para sempre.

S.

8.10.09

Baloiços Dançantes









Cumpridos gestos impensados,
Alargados os prazos dos sonhos…
A mente escapa-se a ponderar
As subtracções emocionais,
O destempero dos dias,
Os esconderijos da alma…
Fingida calma,
Enterra-se viva a amizade,
A verdade,
E camuflada está a consciência.
Não é coincidência
Nem com os invernos,
Nem com as chuvas
Ou temporais da vida.
É a nossa fugida de nós,
É construir cadeias num chão triste e vazio,
É esconder o sol,
Ser frio,
Incerto,
Ser ninguém, portanto.
Mas assim selados estão os aromas,
Esbatidas as cores
E o olhar esquece a ilusão,
A noite é o desconhecido,
A inspiração, uma iguaria queimada,
O amor, uma vã repetição
De palavras decadentes…
Já não há natais com presentes,
Contabilizam-se famílias
E amigos inexistentes.
Já nem há com quem discutir,
Não se chora,
Não se ri.
Forçadas as emoções
Pelos embriagados fingimentos
Perante estranhos
Que nos ladeiam
Sem nome…
Somos baloiços vazios
Dançantes ao vento,
Ressequidos num sol ardente,
Sem destino
Apenas movimento
Esbofeteados pela corrente
Daqueles
Que também se tornaram ninguém.


S.

5.10.09

Encruzilhada de um Destino















Estrada perplexa
Ladeada de árvores prostradas.
Riacho recortado em leito nu,
Destino oculto,
Incolor…
Dor.
Olhos quietos e vazios,
Perca!
Um ter imperfeito,
A lamúria da partilha,
Queda!
Vontade perturbada,
Incêndio gélido,
Fuga inconcebível,
Cómoda inquietude
Que supre silêncios.
Conformam-se as esperanças,
Dilata-se a alma,
Compõem-se poemas e canções,
Ri-se, chorando sem lágrima…
A vida sobrevive
Enquanto não há solidão,
Apenas uma certeza,
Sem Outono nem Verão,
É Amor!


S.

2.10.09

Trilhos de Água














Trilhos…
Contornos abismais,
Trépidas escaladas,
Distâncias sem meta…
O relento dispersa as folhas rascunhadas,
Os riscos de alma,
A substância sublime indescritível,
A vontade e a perca…
Esvazia-se e atola-se
Nas saudades,
Na paixão incompreensível
De amores de outrora,
Até que a lágrima se perde,
Beija a espumada tentação,
E apenas promete regresso.
Ainda que se sinta o abraço,
Dadas as mãos da caminhada retomada,
Os rochedos permanecem estáticos.
No não querer reside a intransponibilidade,
Porque não se apaga partes que são do eu.
Todas as palavras que se bebeu,
As canções que desdobravam a alma,
Os estranhos pensamentos concomitantes,
Nada foi em vão,
Não obstante a dor resultante das impossibilidades…
Confidentes, os duros cegos e mudos,
Permanecem perante o olhar,
Guardando segredos invioláveis,
Confessas culpas,
Crimes de emoções divinais,
Pedaços de vida…
Na verdade são feridas
Que não saram, felizmente,
Porque, na realidade,
Quem nega mente,
São pedaços de intensa felicidade.
È assim que nascem os mares,
Nas lágrimas felizes e tristes,
Nos rios de sonhos que desabam,
Nos segredos de alma vertidos,
Devolvidos em saudades
Pelas marés.


S.

29.9.09

Azul permissão














Nessas planícies azuis,
Enquanto dançam brisas que se beijam ao sol,
Há uma melodia terna e quieta,
Uma estadia secreta
De água perfumada de sal.
A visão deita-se no sombreado,
Entre o algodão e a maré,
Degusta a beleza e a ilusão,
Acredita que não há solidão
No horizonte inatingível
Pintado de mel.
O suspiro perfura a alma,
Explora jardins encantados,
Destila a lágrima mesclada
Entre o sorriso e a prostração,
E ela resulta cristalina.
Não há sombra nem neblina,
Não há verbo verbalizado,
Apenas aquele estado encantado
De quem quer apenas esvaziar-se de tanto,
Encher-se com tão pouco
Como essa imensidão indescritível,
Que se alinha com o céu,
Ao longe,
Tão distante,
E tão táctil
Como a espuma que beija os pés…
Não há medidas nem compassos,
Os rios param e o sol estaciona no entardecer,
A memória dormita,
Os medos escondem-se,
Não existe amanhã.
O agora é perfeito
Enquanto for permitido,
De sonhar, o direito!


S.

12.9.09

Silêncios de Ouro

Há um espaço…
Um extenso compasso de águas que deixam de bailar!
Elas esperam por palavras…
Bebem uma emoção nunca degustada
E devolvem um espelhado mágico…
Letras de sol deitado, de nuvem chorada,
De estranhas loucuras de pele…
Embaraços de estares e incontinências,
Platónicas envolvencias,
Estados de alma pura
Que nunca, em sua loucura,
Aprendeu a ser malícia…
Não há brisa que beije as folhagens,
Nenhuma flor cresce ou murcha,
Apenas o ar é puro,
As pétalas são virginais,
As cores são inventadas na palete dos sentidos…
Tudo por um momento leve,
Transposto para um outro estado sem lei,
Coberto de estrelas palpáveis,
De tesouros escondidos,
De luares reunidos,
De expansão multicor…
Um invólucro de paixão permanente,
De amor eterno,
De ninfa secreta,
De beijos perplexos…
De um mundo interminável
De palavras sem voz…
São momentos mudos onde brotam sonhos,
Sons inaudíveis de dor e alegria,
Canções que não se escrevem,
Pautas nunca gemidas por dedos,
Mas são toques de prazer sem movimento,
Saudades profundas de mil momentos,
Intermináveis declarações nunca ditas
Mas escritas…
São Silêncios de Ouro!

S.

7.9.09

Pérola-Mar

















Há, no mar,
uma expansão de vida,
um espelho de luz,
a sombra de uma ave ferida,
uma voz suave que seduz...
Há, no mar,
um instante,
um lençol de tempo,
a elasticidade de cada momento
que queremos eternizar.
Há, no mar,
o segredo inconfesso,
o tesouro mais secreto,
a canção nunca igual de um choro,
de um sorriso divinal,
de uma distância encurtada
por um azul nunca repetido.
Há, no mar,
o mistério da saudade,
a saciedade da memória,
Há uma verdade,
a infinidade
de se poder ser real...
Há, no mar,
a brisa da esperança
temperada com sal,
adocicada de sol...
a pérola preciosa
que é a chave silenciosa
de todos os sonhos
que ainda hão-de se realizar...



S.

5.9.09

Fica


















Enrosca-te em mim de olhos fechados,
rende-te ao passeio da pele entre os dedos,
poisa tua ansiedade febril em meus poros molhados
e cresce em mim.
Avoluma as tuas emoções e sorri,
pernoita entre meus licores desmedidamente,
despe o amor e solta-o à brisa do meu beijo,
enquanto eu quero que, perdidamente,
fiques em mim.

S.

4.9.09

O fim de um espaço negro
















Entre a voz e o calado
Está a espera que arrepia,
Está o rasgo da memória,
Encobre-se a coragem no manto da covardia…

Ali, no contratempo, na luta,
Devolvem-se olhares furtivos,
Gestos altivos,
Amargura e alegria…

Entre a espada e a parede
Escorrem lágrimas e secam,
Desferem-se verbos
E decapitam-se carinhos

E enquanto a demora pernoita
Desfalecem os tendões do desengano,
Desacreditam-se as ilusões de outrora,
Perdido norte num horizonte apagado sem hora…

E, de repente,
Como quem desmente,
Do nada, algures, sem pensar,
O abraço!

Eu chego envolta em palavras,
De olhar traçado de azul e água,
Como quem soletra uma emoção,
De flocos de sol na mão,
E segredo numa brisa quente e suave
Em teu corpo suado e triste
Que no voo de uma ave
A esperança existe…
Que o céu ainda é pintado de magia
E que a chuva ainda sacia
Brotando em ti
A madrugada perdida…


S.

2.9.09

A tua noite











Despem-se as luzes e acorda um luar perfeito.
Apenas um jogo de reflexos estonteantes se liberta
e o perfume inebria sem margens...
A água dormita entre suspiros que vão e regressam
mas a voz fica dançando na paisagem
que é calor, e corpo e sonho deitado,
contemplação...
Os sorrisos meios perdidos esvoaçam nos olhares
e o encanto suspira serenamente...
Sem pressas,
sem contenções,
apenas fluidez de sentidos,
rasgos de memórias,
fantásticas ilusões...
E a alma cresce,
o corpo ganha cores e arrepios,
e vence-se tudo num abraço
que fica embrenhado no areal...
Agora sim,
o ontem se desvaneceu,
apenas o agora,
hoje,
é o instante que se pode gravar
e levar,
deliciosamente,
para o amanhã.

S.

10.8.09

Gravitacional














Gravitacional intento.
Mascarada emoção que se despe
Quando se tenta camufla-la em areais de fugas…
Um momento que, outrora, abriu o mar,
Que assustava num tormento ondular,
E que aquietava num beijo prometido,
Na calada dor do não estar…
Estando permanente em toque de alma,
Puro sentido insubmisso,
Que descalçava os pés das suas defesas frágeis…
Estranho encontro,
Inevitável, impossível,
Entrelaçados corpos sem pele nem cor,
Vozes inaudíveis que se escutavam
Onde nem o sol penetrava…
Loucura, desvairo, delírio?
Apenas arrebatamento rendido
De suspiros de sentimentos vastos,
Fuga de sofrimento nefasto,
Concretização imperativa…
Atracção suprema além da percepção…
Um mundo perfeito numa dimensão atingível
Apenas num pensamento mútuo, concomitante…
Magia instantânea entre mentes e almas,
Corações elevados,
Limites vencidos
Numa realidade para além do real…
Translação de sentidos que se enlaçam,
Que rodopiam entre constelações,
Oscilam no intemporal,
Descem com asas de cristal
Em brilho tão descomunal
Que jamais alguém,
Em tempo algum,
Ousará negar
Que é amor.


S.

9.8.09

A cor das minhas mãos














Tenho nas mãos uma cor.
Um escorrer lento e interminável de voz,
entre transparências e opacidades
cujas nuances dançam de azul a sol,
de erva a brancura,
de negro a rosa perfumado...
Eu apenas olho e contemplo,
bebo seu brilho que me invade,
acaricio o poema que cresce em mim
e sorrio.
Não sei desolhar.
Não me distraio nem esvoaço
enquanto em minhas mãos suar
essa cor de rio e raio de luz.
Perco-me embriagada
e penetro no paradisíaco imaginado...
Corro e flutuo entre pétalas,
abro folhagens entre gotas que me beijam a face,
escrevo a dedos no vento
e sopro-o para onde o brilho ordenar,
de onde emanam as águas
do rio de cor
que escorre em minhas mãos ainda...
Mas, como tudo finda,
fecho as mãos não querendo,
despeço a fantasia
e volto ao casulo
que fui um dia.

S

1.8.09

Sabor a saudade sim...

















Sabor a saudade, sim!

Trémulo ondular que vem chegando tímido...
de lábios brancos rasgados em sorriso...
e nada mais é preciso
para que o beijo do regresso seja celebração na alma, secretamente...
A vida não pede licença e descola a manhã,
vertigens de raios que despem o sonho
na selada realidade
e o dia cresce.
Adivinhadas as suspiradas alegrias,
os olhares timidamente lançados,
impossíveis de ser evitados,
libertos como pombas rumo a um pomar de encantos.
Aí contorcem-se as lãs no tear
e a manta colorida, de prazeres tecida,
se estende sobre o relvado húmido.
Enquanto nos corpos se deita o sol,
as palavras abraçam-se em pautas dançantes.
Confessos os íntimos delírios
daqueles momentos de solidão
em que se recordavam tolices de amantes
que apenas o foram na ilusão...
Ai saudade morta e sepultada!
Cala-me com os lábios dos meus anseios,
desbota teus aromas em meus seios
e nutre-me com palavras de desejo e loucura,
com tamanha doçura
que a saudade jamais possa ressuscitar!


S.

30.7.09

JUST A SILENCE















There’s no sound
Crossing the shaddow of your voice...

A rainbow dropped from the sky,
No colors, no bright, nor a single noise...

Remains in me, however,
Every word of courage,
Each smile borned from nothing,
Meaning everything,
Touching soul and heart,
Touching lips never kissed...
A never ending moment of magic,
Never confessed,
But never denied too…

Behind a silence
I still hear
Only you.


S.

4.7.09

Rasgo














Céu que rasguei na minha desilusão!
Perdoa meus braços cançados que te feriram!
Dividi-te para não te repartir!
Depois resolvi fugir
E apagar as tuas cores!
As do meus amores
Que insistiam em me acordar
das minhas ilusões...
Mas, um dia, prometo!
Vou restaurar-te por certo!
Vou deixar-te incólume, perfeito...
Como se nunca antes houvera
quem te roubasse a Primavera!

S.

Matinal












No espectro das tuas cores oh céu azul e rosa...
és espelho das minhas fantasias e sorrisos plenos!
Trazes-te a mim em manhãs radiosas
com melodias de mar e de rio, serenos...
Colas em mim esse véu delicado em poema
como seda que minha pele acaricia,
a meus desejos mais ocultos acenas
e das-lhes a dimensão de um novo dia!


S.

FRAGMENTO


















Unidas as mãos,
Mergulham no emaranhado
E soletram a desconexão dos sentidos…
Nada se pertence nem se conhece,
As arestas eriçadas, vértices quebradiços,
Perdido o nexo,
A emoção desvanece
Num nada complexo…

Mescla indecifrável de dias inteiros,
Olhares pronunciados,
Palavras enlodaçadas
Que sentem as asas pesar…
E o vento não as leva consigo,
Nem arrasta o perigo
Desse veneno letal
Que se finge manancial
De amor…

A mente contorce-se,
Os sons levitam,
As vidraças estalam
Ante o grito da fuga
E os anseios falam…

Perante o fio da espada,
Desembainhada por desilusões,
Deambulam as verdades
Contra as paredes do tempo,
Deixando um rasto de fel…
De vidraças está traçado um trilho
Nas irregularidades da esperança,
Onde foi chorado o vinho ensanguentado…

Mas…
De pés traçados,
Passos se fortalecem.
E o horizonte chama,
Ainda incógnito,
Ainda retido na dúvida,
Mas alvo único,
Por decifrar,
Por focar,
Querendo dar-me o sol…

As mesmas mãos solitárias,
Enterradas no labirinto do tempo,
Vão vencendo os enigmas…
Desfalecidas mas determinadas,
Doridas,
Por vezes desmaiadas,
Ou prostradas,
Mas se unem, se descobrem,
Constroem pilares de um novo dia
Que, embora distante,
Chegará!



S.

3.7.09

TEMPESTADE














Rebusco a vida e hoje não sou a de ontem.
A lua aparta o sol e impõe-se, quase apagada…
Velejam meus sonhos
Entre destroços de silêncio, entre o nada
E o mar se aquieta…
Tempestade sou eu, dentro e fora,
Detida nas grades do invisível,
Da estrada de pó,
Oásis impossível,
Fragrância amargada,
Relva seca,
Rosa desmaiada…
Hoje não sou a de ontem.
Sou a de amanhã
Enquanto a alma o ditar…


S.

2.7.09

Verbos Entrelaçados


















A manhã veste-se
E o seu olhar poisa no único rosto que ontem
Lhe enfeitiçou as pálpebras quando adormeceu!
Ela sorri enquanto saboreia a ilusão,
Espreguiça-se como o abraço que não deu,
E adivinha o beijo.
Onde estariam agora seus lábios?
Não importa.
Estão com ela…em seus delírios imaturos…
Em seus anseios inconsequentes,
Em suas mais deliciosas fragrâncias,
Seus segredos…
Ela se rende apenas em oculto.
Ela sente, adivinha… ela sabe…
Que se acordar ele não está,
Que nunca lhe dirá
Que o sonhou.
Tocou,
Acarinhou,
Saboreou,
Desvendou,
Partilhou,
Se entregou…
Em verbos entrelaçados…
Que foram apenas palavras
Soltas a uma brisa de verão,
A um poema, a uma canção
Sem voz.

S.

18.6.09

Se...d...u...ção


















Sem nudez
Sem ficção
Subtileza tímida e escorregadia,
Secretismo sob um véu cego,
Abraço sem toque,
Olhar que despe,
Suor arrepiado…
Um beijo soprado,
Lábios que se dilatam
No prenúncio imaginado…
Compasso distante que encurta
Falésia sem queda,
Entrega gratuita,
Labareda…
Limão gotejado
Mel destilado,
Arrepio e rasgo de voz
Suspiro e tremor,
Ardor…
Inocência que dança,
Mulher criança,
Encantamento livre,
Voo retido
Espera alucinante…
Errantes
Desejos desdobrados,
Multiplicados…
Instantes de magma
Em câmara subcutânea…
Miscelânea
De medo e ousadia,
Apelo às emoções,
Canções
Que se vingam nas pautas,
Num grito de êxtase…
Consumado.
Derramada a loucura,
Embriagada pela doçura
Da paixão adormecida
Que irrompe rendida…
Ao prazer.



S.

7.6.09

Ilha Arcanjo














Estou aqui!
Estou nos teus braços verdes e frescos,
Rebolada nas espumas que malham a rocha,
Que escorrem em carícias de mar…
E beijo-te docemente com o olhar!

Navego nas tuas aragens húmidas,
Nas tuas nuvens, velas brancas sopradas,
De oceano sugadas
Até a um céu fusco
De onde, lentamente, rebusco
Razões para sonhar…

Sem ti, manto de mulher secreta,
Amante de versos e ilusões,
Seria eu uma asa sem voo,
Caída e triste,
Fracasso de paraíso nú,
Um pouco que não existe…
Um manjar cru…

Mas estou aqui!
E a tua fragrância me engana
Em tentações de fuga,
Em ilusões de outras conquistas
Quando tu
És o desvendado oásis
Que só de longe aprendi a regressar
Como quem retorna a um abraço…
que é o teu!


S.

3.6.09

A Escolha


















Coragem dúbia de trilhos mal traçados!
Inversão de olhar que chora porque se esconde!
Paredes caladas que escutam a raiva cuspida…
Telhas que despedem o luar
Cujo encanto é um dilacerar
Do ensejo desnatado levado num sopro de mar…
Rebeldes falésias de um longínquo amanhã
Trituram ansiedades levedadas em lençóis.
Caem na cama como pétalas sangrentas, salgadas,
Lentas,
Molhadas,
Pesadas…
Fonte termal dorida voluntariamente
Porque dói menos aprender a doer
Do que deixar a dor desfalecer…


S.

2.6.09

O teu Segredo













Não sabes, fingindo…

As cores transformas em cinzas,
Com os lábios cerrados te enganas,
A voz esquece seus talentos!

Há sempre aquele aperto terno e suave,
Que é palavra curta mas extensível,
Flor primaveril em botão aprisionada,
Uma expressão que foge calada…

Os sóis dos teus sorrisos denunciantes,
As brechas por onde a emoção espreita,
O orvalho na alma denunciado,
E o suspiro é libertado, subtilmente.
Ele não mente!

No crepúsculo abres teus aposentos
E libertas o voo que é sonho sem destino,
Viras-lhe, no entanto, o rosto,
Escondes-te desse luar
E teimas ser desse tal divagar
O implacável guardião!

Não fazes mal, não!
É assim que se constrói um segredo,
É nessa magia que cresce um mundo perfeito,
Nesse respirar profundo que sorri
Que o olhar brilha fechado
Diante de um trono molhado
Onde chega a maresia do encanto
E, sem que destapes o teu manto,
Ele deixa trespassar uma luz suave,
Num voo livre de ave,
Que, de vez em quando,
Eu sinto poisar em mim!


S.

23.5.09

Golden Love



Pearls falling all over,
shinning dreams born between hands,
stars are not enought to cover
The entire ocean of feelings.
And words dance under the skin,
silently touching souls with passion,
Hearts beating strong and faster,
Crowning love, their master...
No defense, no distance, no cry,
Just believing, delivered to each other,
Flying over mountains and clouds
Simply screaming golden love, loud...
Because tween souls once decided
To be sure,
Secure,
Of the eternity of their love.

S.

17.5.09

-Te










Arrebato-te nas cores dos intervalos do tempo.
Invólucros de sol e chuva pendem-me do olhar
E dilato tuas expressões na avidez da descoberta
De cada pensamento que tentas controlar.

Esbato as asas nas fugas engenhosas das palavras...
Lanças-mas com mel e delírios estonteantes,
Flagrantes, meus desejos prisioneiros, tu lavras
E rendem-se num medo contornado por prazer…

Voltagem desmedida de sentir profundo e louco
Em teus braços vertido, sem contenção revelado,
As defesas caem como flechas flácidas
Num chão macio e fresco, florido, relvado…

Contorço-me sem perícias mascaradas e fingidas,
Agarro apenas um momento dilatado
Onde se resguardam todos os anseios eternos
De ter, estar,
de amar presença e sonho realizado...

Estendidos os lençóis do desvairo
E traçadas as ilimitadas esperanças de uma espera,
A paciência é tranquilizada pelas certezas…
Apenas o certo de uma vida incerta
é o amor sem Inverno ou Primavera!

S

29.4.09

SUBTILIDADES...
















Estranha, essa forma de estar, não estando,
Esse desconforto inquietante de querer, fugindo,
Um tal evitar deslizante e falho nas máscaras de cera…
Derretendo os disfarces no rubor de um sorriso…
E vai-se e volta-se, tentando o bailado subtil,
A magia que encanta e despe,
A voz sopra em ligações ténues,
Fala em tom de seda e rouba olhares…
Caem as vestes do pudor,
Relatam-se as nuances de poros suados,
Lábios, esses espelhos de água, molhados,
Estremecem na espera de um toque.
Mas vai-se e vem-se na tentativa,
Na demora deliciosa,
No fulgor que se incendeia…
Lentamente se expande ao luar,
Espreitam-se os dedos nas marés
Ondulações corporais de veludo, insinuantes,
E se percorre a longa jornada,
Em passos que surgem,
Que urgem
Entrega total.


S.

23.4.09

UM OCEANO PARA TI













Marés soltas e rolantes,
Espumas em chamas esbofeteiam o basalto,
O sol entre as nuvens envergonhado
E a verde manta de trapos que sobe desce suavemente,
São tesouros de orvalho e mar, de terra e fogo,
São coroa de ilha deitada no mar,
São verbo declamado nas lagoas pelo luar…
E neste recanto tão só e distante,
Nesta espera tranquila e poética de vulcão,
Neste ser insular, olho do mundo,
Nem por um segundo
A alma deixa de ser um além tão perto
De almas que se rendem ao sentido da vida,
À essência das turbulências da emoção,
De quem tem gente no coração
E sabe beijar num sopro apenas,
Numa palavra com penas
Que esvoaça na crista de um mar
Que é tão abismo quanto ponte…
Entre mim e ti!

Gotinhadagua (Na magia do nosso arco-iris)

s

19.4.09

Sol na Cascata














Enquanto cais com tua força em meus destinos
eu, apenas imóvel, me deleito ao sentir esse calor...
Sopra, de quando em vez, aquela brisa fresca
e as folhagens em redor dançam ao seu sabor...
Tudo se envolve em encantamento,
tudo é parte de um perfeito momento…

Em tudo se exprime um sentimento
e se colhem gestos perfeitos,
em harmonia com a inspiração
vertida nas águas ferventes
que no corpo vão esculpindo
um prazer e outro, docemente...

Paradisíaco, fantástico, mas real
onde o sonho se converte em vida
e a água encontra guarida
sob os raios de sol que nela poisam
guiando-a a um porto seguro...
um coração de mar lindo e puro...

S.

16.4.09

DOCE RIVAL

















Trarias flores silvestres em teu regaço
Se eu precisasse um dia de teu abraço?
Regarias teu jardim com meu pranto
Se eu perdesse da vida todo o encanto?
Quem seria eu ou tu sem nós?
O ser é a extensão do ser, as almas se dependem,
O mesmo ar penetra em todos e a ninguém se nega.
Porque deixamos a vida secar de sede?
Porque fazemos dela uma teia, uma rede,
De onde não alinhamos as emoções?
Sorrir é apenas uma miragem,
Vale mais a solidão egoísta e irreconciliável
Que a voz suave e humilde da igualdade.
Não se proíba a verdade!
Nela estão contidas as soluções das feridas,
Nelas se consolidam alicerces,
Com ela o caminho segue límpido
Como um rio tranquilo e doce…
Corre comigo cada maré.
Não te detenhas num sonho amargo e triste,
Em qualquer dúvida que existe,
Em qualquer sol que se esconde de ti!
Eu não sou um apenas nada com cores inventadas,
Sou ser, tu és ser, somos partes, não unos…
Sou o que tu és, choro também e rio,
Como, bebo, aqueço e tenho frio…
Preciso tanto de ti como tu de mim…
E assim se aprende o único segredo que a vida realmente tem!

S.

15.4.09

TELA DE PRAZER














Sem projecto, sem planos,
Aleatoriamente,
Perante o que é véu, vendado, desconhecido…
Apenas a imaginação,
Adivinhando a cor,
Num acto de coragem, de fervor…
Lançam-se leves pinceladas entreabertas
Destilantes,
Docemente brilhantes,
Imprimindo a espessa iguaria
Que é, na tela de seda, um céu azul…
Afastam-se os cortinados, tecidos de tentação,
Balbuciam-se palavras mágicas,
Permite-se a ousadia da imaginação…
E as nuances se entrelaçam delicadamente.
Está permitida a mente,
Acesos os desejos em ebulição geotermal,
Irredutível, permanente, magma fluido,
Gotas esporádicas roubando gemidos,
Ardores, tremores, suspiros astrais,
Leve beijo contracenando
Com os olhares dançando,
E a fantasia consagra-se.
Enquanto sufoca tentando renascer,
Retardam-se suas entranhas,
Em contenções estranhas,
Loucura fértil de campo florido
Que se inundará em breve…
Num breve que tarda,
Num daqui a pouco que não chega,
Mas vem…
As comportas se vão soltando,
As mãos suando,
E eis recém-nado
O grito fenomenal…


S.

Invisivelmente...













Foi-se embora...
Deixou o ruído ensurdecedor das plumas que caíam,
perdendo seu esvoaçar, um a um...
Desbotou os sonhos de diamante, de amante, errante,
na bruma dos nimbos que se avolumaram...
Deixou o outrora,
como legado de um baú vedado ao mundo,
e lá rendeu o seu secreto delírio, insuportável horror...
Não reaprendeu uma outra manhã de Primavera,
apenas ausentou de si a espera,
e sobrevive nos espinhos com que resguarda aquele amor...
Ainda que o ninho aqueça nas noites invernais,
por mais suave que chegue a brisa que o beija,
nas melhores iguarias há um amargo de fel,
um estranho disfarce de mel,
que recolhe na colmeia da memória...
Não é triste, nem só, nem perdido,
o espaço é que se tornou incapaz
de conter tanta felicidade secreta, tanta paz...
Não é solitário sofrido,
é um duo, duplicidade unificada, bivalve,
uma só certeza germinada nas promessas seladas, eternas.
Não se ergue aos ventos nem rasga oceanos, mas é ave,
estranhamente angelical, jamais denunciado,
apenas por ela, nela, a ela desvendado...
Foi-se embora das torrentes presenças esfomeadas,
das ternuras abissais que nunca possuiu,
transmutou-se para poder ser quem é em si mesmo.
E reencontrou-se no amor eterno que o possuiu...
Invisivelmente...

S.

Palestra de um desejo














Na dimensão crescente de uma textura inventada,
Condensados os momentos e as confissões,
Há uma palavra secreta, muda, cega, calada…

Não são cristais de timidez em auroras boreais,
Não são espelhos que duplicam uma fantasia,
Mas poemas de maresia estendidos nos areais…

Sem toque disfarçado ou empurrado, acidental,
Para que não se quebre o castelo de gel,
Olha-se então, num beijo não consumado, transcendental…

O arrepio, a brisa, o arrebatamento recém- suado,
A envolvência desejada que duplica no fôlego,
O ter, não tendo, em conquista, desembrulhando a voz…

As mãos quietas, corpos distantes, fogo e silêncio,
Neblina dos sentidos germinando falésias de vertigens
Resumidas na escalada do desejo retido a ferros pelo tempo…

A fúria e o pudor desembainham e esgrimam,
Maestria e rubor entranhados na pele que vai vencendo,
E os poros celebram em tremores inextinguíveis…

Solta-se o brado da libertação, quebra-se o cofre dos anseios,
Despejam-se os beijos, jorram os dedos nas searas de veludo,
E acontece, em tempo sem medida, de sol a luar, tanto e tudo…

Na palestra de lençóis de água de sal e mel, licores mesclados,
Salpicos de magia em sons monossilábicos,
O castelo demolido, hasteado o estandarte da consumação…

O sorriso despe-se em gargalhada que cerra as pálpebras,
O fulgor de lava incandescente se deita deliciado,
E as palavras brincam com os desejos ainda insaciados…

Renascem rugidos, reabrem-se flores ao sol,
Embrenham-se cabelos nos dedos
E pede-se mais, sem saber esperar, sem trovões, sem medos…
Apenas um outro estado, talvez mais húmido, menos sedento,
Mais consciente, menos detido, pretendido, alcançado,
Em momento, de loucura e delírios, consumado…

8.4.09

AS LÁGRIMAS
















Um dia.
A hora não teve expressão.
De um momento para o outro choveu na alma.
Uma nuvem se inflamava sem alerta.
No esconderijo das emoções se erguiam fortalezas que, sem saber, eram translúcidas.
Apenas o olhar teimava em mentir...
Adiado o Outono, mas inevitável.
Apenas sentir o corpo esfriar sob o manto único de rio com sabor a sal,
a razão tocou mansamente...
A dor cresceu, não se sabe bem de onde,
mas alimenta-se e apodera-se impondo trajectos a que o próprio fôlego se submete.
A primeira partícula húmida se enche
e, suspensa, num brilho de falsa beleza,
ameaça descer para que o trilho seja traçado
no rosto, nas mãos, no colo e no chão.
Despede-se do olhar triste
e vem descendo contra vontade,
escolhendo poros, curvas, vales...
Qual estrela cadente
lança o vertiginoso trajecto que outras seguirão,
como filhas recém-formadas...
Gota.
Lá se foi.
Chegou ao chão inaudível, como previsto.
Parte de si era ainda trajecto,
deixado para trás,
como quem não quisesse descer...
Desmaiada, aguarda as demais que a aconcheguem,
talvez num manancial...
Não há minutos que parem nem sol que estanque.
Agora os olhos pesados não suportam mais o peso que o coração tenta imprimir
enquanto parece querer explodir...
Lá vêm!
Esbeltas e roliças, nuas e cristalinas.
Tentadora vista de cascata majestosa
que desconhece rochedos,
mas tem medos
e pele de seda...
Algumas saltam para as mãos
fazendo-as tombar sem forças.
Descaem os medos pedindo misericórdia,
e apontando os pés que parecem ondulantes...
É o milagre do nascimento de um choro longo e triste.
Só assim as nuvens se desvanecem por um tempo
enquanto a alma se refrigera em seus passos
para mais um momento de crescimento.
Cresce-se.
Num total de amargura que se sente
como o espremer de uma azeitona atormentada,
de onde ainda se formará o precioso azeite que purifica e restaura...
As lágrimas...
Elas nunca estão sós!
Não conhecem a dor da solidão nem do desamor!
Isso sentimos nós!
As lágrimas limitam-se a desfilar as suas vestes cristalinas,
puras e de beleza inebriante,
cientes de que os olhares poisam em seus corpos
como aves nos ramos das árvores,
numa balada suave de encanto e alegria
que o coração desconhecia
mas que, nessa corrente,
vai, decerto, um dia,
reencontrar...

S
08 Setembro 2007

AMANHÃ, O SORRISO...


















Não queria que fosse assim!
As flores em volta parecerem incolores,
as estrelas baças, as árvores cansadas...
Não sinto aquele calor de sol e chama
entre braços...
Os pirilampos recolhidos não me visitam,
Nem as rãs nos charcos dão-me serenatas!
Deslocou-se o sorriso de mim!
Deixaram-me assim!
Quando dei
ainda pensei
nada receber,
apenas perceber
que consegui dar...
Mas até isso pareceu fragmento.
Esvaziados esses momentos
em que fui eu a não pensar em mim...
As verdades que disse podiam ser escritas,
fariam estradas bonitas,
que levar-me-iam a mãos dadas,
a amizades sólidas.
Mas foram gélidas
essas mãos que me sugaram amor,
rasgaram-me em dor,
apagaram meu brilho aparente...
Não sabem que, mesmo doente,
minha alma clama em seu silêncio
e em si mesma se renova.
Amanhã dará prova
que não é alma triste,
que mesmo esquecida, existe.
E, nas suas grutas, há uma luz,
há tesouros que ninguém conhece
porque não soube desvendar
nem quis desfrutar
tanto amor que tem para dar...

5 Novembro 2007

6.4.09

Hoje, o outrora de amanhã...













Fui assim,
como quem não arranca rumo ao definido,
saltitando aleatoriamente nas pedras recordadas,
qual gota que tenta subir o rio perdido.
Nada de novo, a não ser umas pequenas preciosidades,
umas simples aspirações que dariam outras madrugadas ,
aquelas simples emoções que projectei um dia
sem certezas de poderem ser horizonte merecido, alegria.
Não rasguei nada.
Cada instalação da exposta grandeza tão pobre
me foi cenário de alma, nobre,
a qual não me proponho condenar.
Perder tempo sem te-lo nas mãos é insano,
mas tributa-lo no ponto de fuga mais além
é dar-lhe filhos que a vida não tem
se não for eu a gera-los com a vontade de mim...
Recolhi apenas o que pude lá deixar sem esquecer,
molhei-me na frescura dos amores e das fantasias,
abracei de saudade os rostos e as alegrias
no gosto secreto de ainda ter algumas comigo hoje.
E então fui e voltei num suspiro profundo de sol,
numa resma de pensamentos expandidos
que estendi no quintal pela manhã, qual lençol...
Olhei-os, ordenadamente coloridos, e meu sorriso floriu
como se instantaneamente brotasse de mim,
e me mostrasse como hoje quero e devo voar
para dar ao agora a beleza do outrora de amanhã!

S

3.4.09

ACONCHEGO

Noites sem estrelas!
Apenas a lua insiste em ficar!
Não fala, nem canta, não se move,
apenas me deixa contempla-la.
Vejo as casas escuras, janelas que luzem,
sombras indefinidas que dançam
nas brisas que as seduzem...
e, mais adiante, o mar, espelho negro,
mágico, que embala e sussurra
versos que não posso traduzir.
Tu me achaste assim, perdida,
cantaste em meu peito a pétala
de uma roseira florida.
Dança comigo sem música!
Apenas balança com as ondas
e olha-me no luar.
Teu abraço me aconchega em tua voz,
e me prendes sem correntes
apenas com o que sentes,
e arrepias-me num beijo calado.
És meu ninho quente e protector,
meu barco, meu farol,
minha cama, meu lençol,
meu medo de querer
um sonho que não posso ter!
É denunciante a tua expressão
quando meu olhar te busca e deseja,
quando minha mão, teu rosto beija,
e encontra doce paixão!
Mede a largura dos teus abraços!
Cola-os em mim definitivamente.
Adormece comigo ao luar,
e quando a manhã acordar,
não se vai o encanto,
fica o alento
de continuar a sonhar!

S
28Novembro2007

AMOR

Olhar um vazio e preenche-lo
com a silhueta daquela voz que dança no pensamento
e esperar que ganhe forma e corpo...
Repetir seu nome na tentativa de possui-lo,
não escreve-lo para que não seja roubado,
ou visto, invejado, ou querido...
Querer possuir sem, contudo, demonstrar,
pois afinal, amar é pertencer e dar!
Chorar sem precisar... apenas porque a ausência dói,
como se algo em nós faltasse!
Se amar não fosse ter, querer, unificar...
porque doeria tanto a fuga, a distância,
o silenciar?
Ser...
só é possível sem metades.
Amar é unidade, não fragmento.
Saudade bilateral, mutualismo,
simbiose no desejo e na verdade,
sonho comum, mesmo que impossível.
O amor não é banal, gasto, esquecido, ultrapassado!
A palavra parece esgotar-se em bocas indignas
as letras sofrem e os sentidos divergem,
mas a verdade prevalece!
Porque há quem ame, quem volte a amar,
quem não desista de escrever que é seu sonho
um amor de vida inteira!
Mas querer ser amado é um direito,
de quem descobre que deve amar primeiro!

S
12Outubro2007

AREAL DOURADO















Estendo-me no meu areal dourado e negro
que me envolve e bebe,
de mim,
cada gota de sal...
Nem o sol lá no alto percebe
se o mar é maior que o meu pranto.
As estrelas calaram-se ante meu canto
e a minha lua não volta a ser a tua.
Já de costas ao mar, não o olho
para não me trazer o que quero esquecer...
Sei-o de cor, de azul e de sonho,
mas triste por me ver sofrer...
E escuto ainda o gemido
de suas ondas perdidas,
como piano desafinado
pelo poema apagado...
Letras que se foram
deixando apenas um rasto de ausência...
Não sei se fujo, se procuro,
se espero ou desisto...
nem a cor dos meus dias se define,
nem as minhas poesias
consigo dar à luz!
Como se algo em mim
me calasse assim...
como uma gota que cai
num copo de água,
e se vai...

S.
17Outubro2007

1.4.09

Reencontro do Eu




















Há uma falésia entre mim e eu.
As suas escarpas de vitral desbotam sentidos,
vertem-se rumo a um fio de água doce, distante,
que lisonjeia o raio de sol que, em tormentos, o alcança...
Deste lado está o olhar e o tacto, o cheiro, a voz...
O arrepio que emerge qual relvado regado
perante a visão do sublime mais além do toque.
Eu toco-me assim, de fora para dentro de mim,
naquele passo tão assustador quanto majestoso,
enquanto tremo e temo a fenda que rasga o sonho
mas que me faz alcança-lo um pouco mais...
Na força do querer esvoaço sem ver,
escutando apenas a brisa que passa por mim,
e o sorriso se incha em meus lábios
em compassos sábios,
esquecendo o que sou
para passar a ser eu...

S

27.3.09

Um toque




















Enquanto as palavras estão aprisionadas
e a voz se esconde nos arbustos da timidez,
olhos dançam disfarçadamente, de soslaio,
procurando um movimento,
um gesto,
a denúncia de um momento,
de um carinho adivinhado,
querendo acontecer...

Quase o sopro se evapora e falta,
o coração intermitente reclama
e as mãos ardentes procuram,
secretamente,
um toque subtil.

O rubor do rosto se intensifica,
e a emoção espreita
em tua boca doce
onde o sonho se deita.

Num acto de coragem heróica
meus dedos alcançam teu rosto
e, numa sensação deliciosa, enfim,
sentem sua textura suave,
perfumada, amorosa...

Como pétalas de uma rosa
são meus dedos de seda
que tocam tuas pálpebras fechadas,
tuas faces tranquilas,
sentem o ar quente que sopras,
o sabor que destilas de teus lábios serenos...

Os teus cabelos,
incontáveis desejos
que deslizam nas palmas das mãos...

Brota a ilusão
e a voz não sustida segreda,
quase inaudível,
um som não articulado
que contém todas as palavras
que descreveriam a emoção...

As notas musicais caem das pautas,
incapazes de dançar
porque o bailado perfeito
está naquele tocar
com a ilusão e o sonho
que o coração de alguém,
num dia inigualável,
se atreveu a imaginar...

S

Asas Nuas















Enquanto a noite adormece
em redor caem as folhas
tocadas pela brisa fria invernal.
O chão se estende e as recebe
como a um cobertor que o acolhe afinal.
Apenas as minhas pálpebras
erguidas como torres firmes inflexíveis,
reclamam uma noite sem guarida,
sem leito nem estrelas
e já a lua se esconde na escuridão.
Recolho-me então à minha solidão.
Nos seus aposentos me revelo
e conto meus mais secretos anseios,
aqueles que não conto a ninguém!
Porque quando os contei
foi quando, de novo, os chorei!
Não mereço olhar nem ver
ao espelho meu sorriso,
ele me trai continuamente,
porque seu brilho me mente,
me inunda de amor e paixão
que me rouba a tranquilidade,
me perturba até à exaustão,
e me acorda dos sonhos que me deu.
Não posso voar...
Não perdi as asas de anjo!
Fui perdendo as penas e as plumas!
Um dia uma, outro dia algumas,
e hoje tenho as asas nuas.
Pedem-me que as torne a cobrir
porque tremem de frio e medo,
mas não sou capaz de prosseguir.
Vou deixa-las desmaiar
até a vida as abandonar
e já não serão mais parte de mim...

S

26.3.09

Sol















Lá vem esse toque intenso de sol sedento...

Espreguiçado nas entranhas de meus desejos,
Soletra recantos que arrepia em seu deslizar...

Faz-me engolir um suspiro abismal
e as minhas ousadas fantasias vem sugar.

É um calor que banha com ouro e mel,
fala e canta em espuma de sal
e inventa trilhos de água e de pele,
de suor e rubor, rompendo o véu da timidez...

É ele outra vez!
Esconde-se atrás da noite mas não me esquece,
espreita pela lua e segreda-lhe que me faça sonhar.
Eu nem durmo, perdida no tempo a pensar
que as horas passam e no horizonte se fará de novo nascer.

Hoje vou rete-lo em mim!
Vou olha-lo intensamente,
beijar seus raios que brincam com meus sentidos,
fa-lo-hei entrar em mim subtilmente
e em meus lábios o encerrarei para que seja só meu!

S

25.3.09

Permanente...















O que trazes nas falésias dos teus dedos?
Quantas travessias teu mar empurrou sob o sol do anoitecer?
Onde se refugiaram as cores do teu olhar poisado no meu?
Quantas marés, beijando a rocha, percutiram nossos sonhos?
Lá vão as águas, rio abaixo, como loucas!
O vento arrancou as palavras de amor e paixão que não foram reveladas.
Mas quem sentiu o corpo tremer e arrepiar escreveu, a tinta permanente, todas as partilhas...
Comprei um dia que estendi no tempo até perder seus confins.
Hoje não releio o rolo de telas e fantasias porque as sei de cor...
Há, por perto, flores frágeis, de fragrâncias que não me encantam.
Levedam as estrelas para que seu canto seja gritante em meu semblante...
Mas a chuva não cessa, caindo seca e pesada, como pedra lavrada.
Banho-me nela para até que a própria dor me ensine a vence-la.
Não me espreites nos intervalos da partida.
Não ocultes a iminente fugida.
Não te esqueças que nunca te ensinarei a esquecer de mim!

20090323

S

23.3.09

Violino















Tu...
Olhas-me em tons perfumados de mel,
vertendo riachos de sedutoras carícias.
Tuas palavras são molhos de chaves que me descobrem...
Rolas em meu fôlego retendo-o em delícias
e moves-me...
Teces-me, ante os pés, a pista dos meus sentidos
abraçados aos teus
em um balanço de água e cristais...
O coral de sorrisos incandescentes
escorre em lava por lábios serenos e quietos...
apenas a chama interna se devolve ao corpo
colidindo com o disfarce do véu solúvel...
Sou um eco de acordes subtis pontilhados pelos teus dedos,
trago gotas de teus encantos em meus cabelos
e assisto ao bailado de nossos olhares
que apenas se encontram nos espelhos do sentir...
Voas sem asas num flutuante envolvimento
como brisa em terno movimento,
beijando-me disfarçadamente...
Eu não sei a tua canção,
mas soletro-a adivinhando os seus compassos,
pauso em seus silenciosos suspiros
e retomo o gemido idílico num gostoso abraço.
Tu...
sem pensar nem sonhar,
és assim...
lido por mim.
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